Título: Fala de Lula foi vazia e mentirosa, diz oposição
Autor: Jayme, Thiago Vitale e Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2007, Caderno Especial Posse, p. A4

A oposição considerou o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva "vazio" de propostas para o segundo mandato, principalmente na economia, pouco enfático na questão ética e "mentiroso" ao atribuir a seu governo a criação dos programas sociais no país. Mesmo assim, PFL e PSDB sinalizaram disposição de aceitar o convite para discutir a reforma política, desde que o governo apresente propostas consistentes.

Para o líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), único líder da oposição presente à posse no Congresso Nacional, o discurso de Lula, além de vazio de propostas, foi "populista e mentiroso", por acusar a oposição de ser contra o programa Bolsa Família. "Foi a oposição quem criou o Bolsa Família", disse. Para ele, o pronunciamento "pára no diagnóstico": fala em destravar o país, mas não apresenta nenhuma medida nesse sentido.

Aleluia manifestou a intenção do PFL de discutir reforma política com o governo "quando for apresentada uma proposta concreta". Para ele, o local da discussão é o Congresso, por meio dos líderes governistas, e não no Planalto, com Lula.

O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), que não foi a Brasília, afirmou que "a ênfase que o presidente deu à reforma política em seu discurso desvia a atenção das reformas econômicas". Cobrou a posição do presidente sobre as reformas trabalhista e previdenciária. Disse que esperava de Lula mais "firmeza" no compromisso com a defesa da ética.

Por outro lado, afirmou que "não se negaria jamais" a conversar sobre reforma política. Para Virgílio, Lula "não foi grande" ao dizer que os programas sociais foram criados por ele. "O Bolsa Família é um agrupamento de projetos que ele herdou do governo Fernando Henrique Cardoso", disse.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pediu que a oposição não se negue a aceitar a "conciliação" proposta pelo presidente. Em seu discurso, foi mais enfático que Lula na defesa da aprovação das reformas, como a política e a tributária. O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), um dos cinco governadores recém-empossados que foram a Brasília, classificou o discurso de Lula como "de pacificador" e pediu "mais grandeza" da oposição.

O ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP) colocou a reforma política como prioridade. "Essa deve ser a primeira medida do governo e do Congresso. Temos de acabar com a reeleição e ampliar o mandato do presidente para cinco anos", defendeu.

A posse foi esvaziada tanto na Esplanada dos Ministérios quanto no Congresso Nacional. Dos pouco mais de 1,3 mil convidados para a solenidade no plenário, apenas 400 pessoas foram ao Parlamento. Desses, apenas cinco governadores, 210 parlamentares e 80 representantes de embaixadas. Alguns poucos ministros de tribunais superiores. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, justificou a ausência de autoridades internacionais. "Foi uma posse voltada para o povo. Não existe o elemento da surpresa, o presidente foi reeleito, não havia necessidade de uma posse mais cara", disse. "Não veio ninguém de fora porque ninguém foi convidado."

Para o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, o governo inicia o segundo mandato em melhor condição do que o primeiro. "O Brasil tem todas as condições para crescer. A situação hoje é melhor do que há quatro anos. As medidas que o presidente quer adotar para destravar a economia darão condições para esse crescimento, com grande foco na questão da infra-estrutura", afirmou.

Em rápida declaração, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse esperar "muita força e realização" no segundo mandato. "Há um absoluto otimismo para o país crescer e se desenvolver", disse. Como uma espécie de ressalva ao colega, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que o crescimento econômico do país deve seguir as regras de "sustentabilidade ambiental" que teriam sido adotadas no primeiro mandato. "A prioridade é fazer mais e melhor. Mas fizemos muito até agora, com uma legislação avançada, desmonte de quadrilhas e a redução do desmatamento." Cotada para permanecer no governo, Marina disse que a maior realização do governo petista foi reduzir a pobreza em 19,4% em quatro anos. "Passamos de R$ 7 bilhões para R$ 28 bilhões os recursos do fundo contra a pobreza."

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), ex-líder do governo no Senado, defendeu que o governo enfrente a questão tributária e melhore a eficiência das políticas públicas. O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, afirmou que o governo precisa discutir, para 2007, o aumento do valor da Bolsa Família. "Acho que esse reajuste é fundamental. Pelo menos, para corrigir as perdas da inflação", afirmou.

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, admitiu que será preciso acelerar o crescimento do país no segundo mandato. "Foi um crescimento moderado, modesto, abaixo das potencialidades do país", disse. Apontado como sucessor do ministro da Justiça, Genro adotou um tom autocrítico ao comentar a relação do Palácio do Planalto com o Congresso. "O governo cometeu alguns erros na relação com o Congresso, diria um erro histórico", disse. Para ele, os erros serão corrigidos a partir da experiência adquirida ao longo do primeiro mandato. "No segundo mandato, as forças políticas vão ter que ter responsabilidades sobre suas bases no Congresso."

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci, afirmou que o novo ministério será anunciado "de uma vez só", mas não informou prazos nem prováveis nomes. Responsável por conversar com os movimentos sociais, Dulci afirmou que o segundo mandato de Lula será marcado pela consolidação do processo de distribuição de renda e combate à fome e pelo investimento na "educação de qualidade".