Título: Requião critica adversários, empresários e imprensa
Autor: Lima, Marli
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2007, Caderno Especial Posse, p. A11

O governador reeleito do Paraná, Roberto Requião (PMDB), aproveitou a cerimônia de posse para fazer críticas a adversários políticos, empresas e imprensa. Logo no início, contou que chegaram a lhe pedir um discurso de conciliação, mas ele optou pelo tom mais agressivo. Disse que fará um governo de esquerda e que nos próximos quatro anos vai "radicalizar" na administração voltada para o povo.

O pemedebista dedicou o discurso ao ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), segundo um ele um "político que surpreendeu com a capacidade de dizer o que pensa". Foi a terceira posse de Requião como governador do Estado. Advogado e jornalista, aos 65 anos de idade, foi reeleito com 50,1% dos votos válidos.

Ele pouco citou o presidente Lula e, ao contrário de 2003, quando falou dos desafios do mandato e disse tratar-se do "primeiro dia da recriação", desta vez optou por apontar os problemas que enfrentou na gestão, atacar a direita e tentar justificar a pequena diferença de votos sobre o adversário Osmar Dias (PDT).

"Nunca se viu uma união de forças tão poderosas, tão obstinada, tão arrogante e, ao mesmo tempo, tão sem escrúpulos como a que enfrentamos", afirmou, sobre o período de campanha. Ao citar o comportamento dos adversários, comentou que "discursavam com gosto de sangue na boca, com punhal entre os dentes". Entre eles, disse o governador, estavam os que "quebraram e privatizaram o (banco estatal) Banestado".

Requião disse que "no palanque do adversário" ficaram também os que queriam vender a empresa de energia Copel, os que alienaram o controle da Sanepar (saneamento) e que privatizaram as estradas do Estado. "Estavam todos lá. Os que viviam de fraudar concorrências, de superfaturar e de fazer das concorrências públicas uma ação entre amigos", disse.

O governador não falou nomes de adversários mas não poupou o Banco Itaú, citado três vezes. "Estava lá o Banco Itaú, contra quem o Estado do Paraná demanda na Justiça e que ganhou o Banestado de presente, de graça, num dos processos mais absurdos da privataria, do desbaratamento do patrimônio público." Como resultado dessa briga contra o banco paulista, Requião tirou as contas do governo do Itaú e passou para o Banco do Brasil e para a Caixa Econômica Federal. O discurso foi lido na Assembléia Legislativa, onde a cerimônia foi realizada pela manhã, para que desse tempo de o governador viajar para Brasília e acompanhar a posse de Lula.

Terminada a crítica aos adversários, ele disse que do seu lado está o povo. "E lá vem essa conversa toda de populismo, do horror a um Hugo Chavez (presidente da Venezuela), a um Evo Morales (presidente da Bolívia), a um Rafael Correa (presidente do Equador), a qualquer um que se oponha ao consenso de Washington, aos ditames do FMI, às receitas do neoliberalismo, à ação sem freio do mercado." O governador do Paraná rejeitou ser chamado de centro-esquerda. "Não venham com esses centrismos, com esse equilibrismo. Somos sim um governo de esquerda." Após falar de realizações de seu governo anterior, garantir que vai continuar brigando com as concessionárias de rodovias e afirmou que vai "radicalizar a política de defesa do meio ambiente". O final do discurso foi dedicado à imprensa. "Vou dizê-la mesmo contra o conselho dos que querem 'deixar disso', e para desassossego dos pregadores da cordialidade", disse.

Um dia após ser reeleito, o pemedebista convocou uma coletiva de imprensa e aproveitou a ocasião para falar mal de empresas de comunicação e jornalistas, que foram acusados de favorecer seu adversário político. O ato gerou protestos de diversas instituições. Ontem, ele retomou o assunto tanto no discurso que fez na Assembléia como na cerimônia externa realizada ao lado do prédio que será usado provisoriamente como sede do governo, no Centro Cívico, durante reforma do Palácio Iguaçu. "Não haverá dinheiro para a grande mídia do Paraná nesses quatro anos de governo", afirmou.

Quando o governador cedeu a palavra ao seu vice, Orlando Pessuti (PMDB), mais uma vez foi cogitada a possibilidade de Requião tornar-se candidato à presidência, um sonho antigo do pemedebista, mas que enfrenta resistências dentro do próprio partido. A mesma possibilidade foi levantada recentemente, em convenção estadual do PMDB.

Como havia avisado, Requião assumiu com a mesma equipe que tinha antes da reeleição. Trocas existirão, principalmente para abrigar membros de partidos que o apoiaram, como o PT e o PSDB, mas integrantes do governo garantem que elas serão feitas sem pressa.