Título: Na Bahia, Wagner enfatiza fim da era carlista
Autor: Cruz, Patrick
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2007, Caderno Especial Posse, p. A12

Em um discurso pontuado por referências ao fim da hegemonia carlista na Bahia, o governador eleito Jaques Wagner (PT) não deixou também de louvar seu maior cabo eleitoral. Por cerca de 30 minutos, quando fez discurso à platéia que lotou o plenário da Assembléia Legislativa, foram 11 as citações ao governo federal ou nominalmente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Em apenas quatro anos, o governo do presidente Lula já deu um exemplo de como se pode governar para os mais pobres (...) Sei que o Brasil inteiro hoje olha para nós com expectativa e esperança", disse Wagner, em alusão ao fortalecimento de seu nome após a surpreendente vitória nas eleições contra o então governador Paulo Souto. O petista passou a ser citado como um dos eventuais candidatos do partido para concorrer à presidência na eleição de 2010, possibilidade sequer cogitada apenas dois meses atrás.

A série de cerimônias que marcaram a posse do novo governador começou às 9h. Após a assinatura do termo de posse e do discurso, ambos na Assembléia Legislativa, Wagner seguiu de carro para a governadoria, a menos de mil metros dali, onde Paulo Souto o esperava. As críticas ao domínio carlista do primeiro discurso foram substituídas por palavras de agradecimento ao pefelista pela "altivez" com que Souto conduziu o processo de transição. "Neste governo não haverá revanchismo. Trabalharemos juntos pelo povo da Bahia", disse Wagner.

Após o breve encontro, seguido pela posse dos novos secretários de Estado, Wagner desfilou em carro aberto para o palco montado diante da Assembléia Legislativa. Lá, depois da intervenção de líderes religiosos, de dez minutos de queima de fogos e antes de shows com artistas locais, falou a um público de cerca de cinco mil pessoas.

Enquanto aguardava por sua participação, Wagner consultou seu relógio algumas vezes, já que ainda teria que embarcar para Brasília para participar da cerimônia de posse de Lula.

A fala do governador eleito na Assembléia Legislativa fez um paralelo entre movimentos revolucionários do passado e a derrota na urnas do grupo liderado pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL). "O baiano traz no sangue a luta para expulsar os invasores que deles quiseram se apoderar", disse Wagner, nascido no Rio de Janeiro, mas radicado na Bahia desde a década de 70. Entre as referências históricas, citou a data cívica de 2 de julho, quando se festeja no Estado a Batalha de Pirajá, tida como um dos marcos no processo de independência do Brasil.

"Dois de julho" foi também uma das saudações do público que aguardava o governador do lado de fora da Assembléia. Primeiro, saudaram-no como "Galego", apelido pelo qual é chamado pelo presidente Lula. O segundo grito da multidão foi "aeroporto é Dois de Julho". O aeroporto de Salvador foi rebatizado como Luís Eduardo Magalhães depois da morte do ex-deputado federal e filho de ACM, em 1998. O retorno ao antigo nome é reivindicado por boa parte da população, em especial pelos opositores do carlismo. Na Câmara federal, o projeto tem como relator o deputado Zezéu Ribeiro (PT).

A saudação foi a primeira reivindicação ouvida por Wagner após ter sido empossado. Entretanto, ele não marcará o início de seu mandato com qualquer decisão em particular. O novo governador da Bahia afirmou em todo o período do processo de transição que, qualquer que fosse seu primeiro ato de governo, seria tomado "à medida em que as demandas surgirem".