Título: Campos fala em "fracasso neoliberal"
Autor: Mandl, Carolina
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2007, Caderno Especial Posse, p. A13

Ao assumir o governo de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) afirmou que sua gestão deverá ser marcada por uma maior participação do Estado nas questões econômicas.

Citando os presidentes Luís Inácio Lula da Silva e o venezuelano Hugo Chávez, o governador afirmou fazer parte de um grupo de dirigentes de toda a América do Sul dispostos a apresentar um modelo em oposição ao neoliberalismo.

"Este mandato se inscreve também como parte de um movimento em escala continental, em que se firmam em toda a América do Sul governos comprometidos com a causa do povo, depois do evidente fracasso do modelo neoliberal em todo o continente", afirmou o governador em seu discurso de posse.

As palavras de Campos vão ao encontro do momento que o Estado vive. A maior parte dos projetos em curso em Pernambuco tem o apoio do governo federal ou de empresas estatais. A refinaria no Porto de Suape, sociedade entre a estatal venezuelana PDVSA e a Petrobras, é um exemplo disso. Há também a ferrovia Transnordestina, a transposição do rio São Francisco e as construções de um estaleiro e de um pólo têxtil.

"Buscaremos o planejamento regional, lastreado por investimentos estruturadores do governo federal na região", disse o novo governador no pronunciamento de posse.

O novo governador afirmou apostar que toda a região nordestina irá se beneficiar neste segundo mandato do presidente Lula. "A questão nordestina é parte fundamental da questão brasileira", ressaltou Campos em discurso à população no Palácio das Princesas.

E não é apenas do apoio de Lula para a realização de empreendimentos que Pernambuco depende. Os projetos em andamento requerem uma contrapartida do governo em obras de infra-estrutura. São recursos de que o Estado ainda não dispõe e que eventuais parcerias com o governo federal poderiam ajudar a tornar viáveis.

Em seu discurso contra o neoliberalismo, o novo governador pernambucano também teve como objetivo atacar a gestão anterior à sua, comandada por Jarbas Vasconcelos (PMDB).

Ao longo de quase oito anos o opositor de Miguel Arraes, de quem Campos é neto, governou Pernambuco. Vasconcelos só não completou seu mandato porque tentou emplacar o vice Mendonça Filho (PFL) como seu sucessor.

O antagonismo entre o estilo de governar dos dois políticos fica evidente quando se comparam as palavras ditas por ambos no dia de suas respectivas posses. "O Estado patrimonialista e populista, que explica a pobreza brasileira, está chegando ao fim de forma irremediável", afirmou Jarbas em 1999, numa referência à gestão de Arraes, que o havia antecedido.

Para se eleger governador, Campos enfrentou nas urnas Mendonça Filho e Humberto Costa (PT), ex-ministro da Saúde do governo Lula. No início das pesquisas eleitorais, o candidato do PSB aparecia na última colocação. No entanto, ao receber o apoio de Costa, derrotado no primeiro turno, Campos reverteu a situação.