Título: Lago pedirá a renegociação da dívida de Roseana
Autor: Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2007, Caderno Especial Posse, p. A14

O novo governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), deve pedir uma audiência ao presidente Luís Inácio Lula da Silva para tentar renegociar a dívida do Estado, afirma o chefe da Casa Civil estadual, Aderson Lago (PSDB). Outra providência será uma auditoria no uso dos recursos da dívida de R$ 6 bilhões, contraída até o último governo da senadora Roseana Sarney. "Sabemos que o governador José Reinaldo (PSB) não tomou um centavo dessa dívida", disse Aderson Lago. Embora a situação fiscal do Estado tenha melhorado nos últimos quatro anos, com alta de 100% da arrecadação, Aderson Lago diz que o pagamento consome R$ 600 milhões anuais e que para investir mais, especialmente na recuperação de estradas, seria necessário diminuir os pagamentos da dívida. Aderson Lago admitiu, entretanto, que como a receita anual representa 80% da dívida, teria que haver "boa vontade" do governo federal para a renegociação. Pouco após ser empossado, Lago disse que sabe que a população maranhense tem "grande expectativa" em relação ao seu governo, depois de 40 anos de dominação da oligarquia Sarney, e que pretende investir principalmente nas áreas de saúde, educação e segurança.

Lago tomou posse oficialmente às 16h32 (17h32 no horário de Brasília) numa cerimônia no plenário da Assembléia Legislativa. O governador proferiu o juramento de praxe sob uma frase inscrita em letras douradas na parede da Assembléia. A frase "Não há democracia sem parlamento livre" está inscrita em letras de latão dourado, e logo abaixo vem o seu autor: o ex-presidente José Sarney. A citação no plenário foi colocada por um projeto de lei do deputado estadual Ricardo Murad, cunhado do ex-presidente. Alguns deputados ligados ao novo governo até pensaram em fazer um projeto de lei para tirar a frase da parede, mas desistiram porque ainda este ano será inaugurado um novo prédio.

Lago e seus secretários foram recepcionados na entrada do prédio da Assembléia, no centro histórico de São Luís, pela Banda da Polícia Militar em farda de gala, tocando versões instrumentais de músicas de Tim Maia e Bob Marley. No plenário da Assembléia, o forte ar condicionado impedia que os deputados, todos com terno e gravata, e suas mulheres, em vestidos e terninhos de tafetá, organza ou cetim, suassem com o calor da tarde maranhense. Praticamente todas as autoridades, de secretários a deputados, chegaram à Assembléia em reluzentes caminhonetes importadas.

Depois da solenidade na Assembléia, o ex-governador José Reinaldo Tavares transmitiu uma faixa governatorial a Jackson Lago numa solenidade no centro histórico. A transmissão de cargo foi acompanhada por cerca de 5 mil pessoas, entre populares e convidados, e depois haveria shows de uma banda de forró. Nos discursos para a população Tavares e Lago referiram-se mais diretamente à família Sarney. O jornal "O Estado do Maranhão" publicou no domingo violento editorial assinado por José Sarney criticando duramente o ex-governador Tavares, que foi eleito como aliado da família e rompeu com o clã no primeiro ano de governo. Tavares é considerado o "arquiteto" da vitória de Lago, por ter estimulado a criação de três diferentes candidaturas de oposição a Roseana Sarney. Ele enumera os cargos concedidos a Tavares e diz que só não o demitiu como ministro dos transportes depois do episódio da concorrência da ferrovia Norte-Sul "para não vê-lo liquidado com a pecha de corrupto".

Apesar de não mencionar o nome da família Sarney, nos discursos à população tanto o ex-governador quanto o recém empossado fizeram referências explícitas e devolveram as críticas. "Estou feliz de entregar o cargo a um homem honrado", disse Tavares. O ex-governador reclamou da dívida de R$ 6 bilhões que recebeu. "Na melhor das hipóteses essa dívida só será paga em 2022", afirmou.

Jackson Lago extinguiu algumas secretarias e todas as gerências regionais, deixando o Estado com pouco mais de 20 Pastas (incluindo as gerências e secretarias extraordinárias, o Maranhão tinha 53 órgãos públicos). Foram mantidos cinco secretários da administração anterior - o secretário da Fazenda, José Azolini, o do Meio-Ambiente, Othelino Neto, o da Educação, Lourenço Vieira da Silva, o da Infra-Estrutura, Ney Belo, e o de Direitos Humanos, Sálvio Dino.