Título: Potencial de negócios do varejo interno inibe as operações externas
Autor: Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2007, Finanças, p. C1

Entusiasmados em desenvolver operações de atacado no mercado internacional, os maiores bancos privados brasileiros são mais reticentes quando o tema é fazer varejo no exterior.

As dimensões do mercado interno são um motivo poderoso, conforme ficou claro em recentes comentários feitos pela cúpula dos bancos em apresentações a analistas do mercado de capitais ou entrevistas à imprensa.

"Temos muito ainda a caminhar dentro do Brasil e não temos intenção de fazer varejo fora", disse o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, ao informar que iniciou estudos para instalar um escritório na China e em outros mercados emergentes.

O objetivo do maior banco privado brasileiro é acompanhar os movimentos de expansão internacional das empresas brasileiras.

"Nosso foco é o Brasil, o mercado que a gente conhece. Há grandes oportunidades de investimento aqui, país de dimensões continentais. Não temos planos de de ter rede de varejo fora", disse o presidente do Unibanco, Pedro Moreira Salles.

A exceção é o Banco Itaú, que possui uma rede de varejo na Argentina desde 1998, e agora quer ampliá-la. Até o final do ano, espera obter aprovação das autoridades para a compra das operações do BankBoston no Chile e Uruguai. Além disso, adquiriu, em fins de novembro, o negócio de private banking do BankBoston, com 5,5 mil clientes da América Latina, principalmente brasileiros, mas também argentinos.

Para o Itaú, o private banking é também uma forma de crescer no exterior, embora em um nicho bem específico do varejo.

Outros mercados latinos nos quais pretende fazer private banking são o Peru e a Colômbia.

Ainda assim, o presidente Roberto Setubal afirmou, recentemente, em reunião com analistas do mercado, que o "principal foco" do banco é o mercado brasileiro, onde ainda há "as perspectivas de crescimento ainda são muito fortes"; e lembrou dados como a baixa relação crédito e Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 33%. No entanto, Setubal afirmou estar atento a oportunidades de aquisição em outros mercados emergentes, como a América Latina. "Mas não nos vemos no varejo na Europa e Estados Unidos, que são mercado muito competitivos e de baixo crescimento", explicou.

Na Argentina, o banco está "saindo da defensiva e sendo mais atuantes", disse Setubal, replicando a estrutura que tem no Brasil, onde o varejo cuida de pessoas físicas e pequenas e médias empresas; e o Itaú BBA das grandes corporações. "Queremos ganhar escala", disse. No Chile e Uruguai, "o desafio é crescer", acrescentou.