Título: Internacionalização das empresas leva bancos brasileiros ao exterior
Autor: Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2007, Finanças, p. C1

À medida que mais empresas brasileiras tornam-se multinacionais, os bancos estão reforçando a estrutura para acompanhá-las.

As instituições mais ativas no atacado estão avalizando empréstimos em moedas exóticas e fechando parcerias com instituições de varejo no exterior que praticamente não atuam nos mercados internacionais. Bradesco e Itaú têm juntos US$ 1,25 bilhão em garantias de empréstimos para subsidiárias na Ásia, América Latina, África e Europa.

A necessidade fez o diretor internacional do Itaú BBA, Luiz Henrique Campiglia, imprimir um cartão de visitas com o verso em chinês, para entregar em suas viagens cada vez mais freqüentes ao país. "Hoje atuamos em 16 países. Nos que não têm moeda conversível, fechamos parcerias com os grandes bancos locais, como China e Rússia". O Itaú BBA já ofereceu US$ 700 milhões em garantias a bancos estrangeiros para empréstimos a empresas brasileiras.

Uma das operações recentes foi assessorar crédito em reminbis para a subsidiária da fabricante de motores e compressores Weg na China. "As subsidiárias são pequenas e os bancos de varejo na China não conhecem o risco de crédito das matrizes no Brasil", explica Campiglia.

A Weg usou crédito em moeda local para financiar a compra de sua fábrica na China (batizada de Weg Nantong), fechada em novembro por US$ 12 milhões. "Tomamos um financiamento de 75 milhões de reminbis (US$ 10 milhões) para capital de giro, com prazo de cinco anos", diz o diretor financeiro Alidor Lueders. Atuando em 20 países, a Weg tem fábricas na Argentina, México, Portugal e China, e escritórios nos Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Itália, Alemanha, Espanha, França, Portugal,Bélgica, Venezuela, Chile, Colômbia e Índia.

Do endividamento total de R$ 1,3 bilhão, as subsidiárias respondem por US$ 150 milhões. Há linhas em dólar, euro e moedas locais, com diversos indexadores (incluindo Libor e Euribor). Praticamente todos os bancos com os quais a empresa atua no Brasil (BB, Santander, Bradesco, Itaú, ABN Amro, Unibanco e HSBC) assessoram a companhia em suas atividades financeiras no exterior. "Assinamos o contrato aqui no Brasil, o banco se encarrega da papelada no exterior. A subsidiária recebe o crédito na moeda local", explica Lueders. Em alguns casos a Weg prefere mandar o crédito em dólares ao invés da moeda local.

Até agora, a política da Weg era tomar empréstimos para subsidiárias no exterior com garantia da matriz brasileira. "Agora queremos consolidar todas as operações externas na subsidiária da Espanha, Weg Iberia. Assim reduziremos o custo dos financiamentos porque a empresa não estará submetida ao risco Brasil", explica Lueders.

A Weg está avaliando dois grandes mercados onde poderá instalar unidades fabris: Índia e Rússia. A empresa quer aumentar o percentual de custos no exterior sobre a receita total, para escapar da valorização do real.

O Bradesco também está expandindo operações na Ásia, segundo o diretor José Guilherme Lembi de Faria, com investimento de US$ 50 milhões para abrir um escritório na China. Hoje o banco atua no Japão, voltado para operações de transferência de dinheiro de dekasseguis.

O Bradesco já deu garantias para crédito em moeda local a uma empresa de autopeças brasileira que tem subsidiárias na China. "Intermediamos esse tipo de operação de crédito até mesmo nos Estados Unidos, onde os bancos não têm como avaliar o balanço da matriz".

Dependendo das taxas de juros no país, o crédito também pode financiar investimentos. Outra operação comum, especialmente para construtoras que disputam licitações no exterior, é a oferta de "performance bonds", títulos emitidos pela instituição como garantia de cumprimento do contrato pelo fornecedor. Lembi diz que a carteira dessas operações ainda é pequena, US$ 450 milhões, mas tende a crescer. "Vamos abrir o escritório na China porque a médio prazo deve haver um grande crescimento de negócios", diz Lembi, que espera abrir o novo escritório no segundo semestre.

Entre os seus parceiros, o Bradesco tem no Chile o Banco de Chile, os maiores de varejo nos EUA (Bank of America, Wachovia, Wells Fargo), na China o Bank of China e no Japão, Mitsubishi. No Oriente Médio e Rússia, os parceiros são europeus ou americanos.

A Marcopolo, uma das maiores fabricantes de carrocerias de ônibus do mundo, tem fábricas em Portugal, Argentina, México, Colômbia e África do Sul, além de transferir tecnologia para a China.

Além de linhas em dólares, a Marcopolo tem também dívida de US$ 10 milhões em pesos colombianos, segundo seu balanço de setembro. Embora não tenha operações de crédito na moeda sul-africana (randes), a empresa lista no balanço US$ 16,8 milhões em contratos de "forward" de dólar em randes, travando a cotação para os vencimentos de outubro de 2006 a maio de 2007. Consultada sobre o assunto, a diretoria financeira da empresa preferiu não comentar o assunto.