Título: Investidor em título prefere spread fixo
Autor: Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2007, Finanças, p. C1

As empresas que pretendem emitir debêntures com prazo longo, acima de quatro anos, estão encontrando investidores cada vez menos dispostos a aceitar rentabilidade definida como percentual do CDI. O rendimento do certificado de depósito interbancário, que reflete a taxa Selic, é o indexador mais comum nas emissões de debêntures e notas promissórias. O rendimento pode ser fixado em percentual do CDI ou um spread fixo acima da taxa (CDI mais 0,5%, por exemplo).

A expectativa de queda de juros está aumentando a pressão sobre as empresas para usar mais o spread sobre CDI do que o percentual. "As empresas que insistem no percentual acabam pagando um pouco mais do que o equivalente em spread", explica o diretor de um dos bancos líderes no mercado.

As emissões de dezembro já demonstram a tendência. A Vale do Rio Doce, que fez a maior emissão de debêntures do ano, de R$ 5,5 bilhões, vendeu R$ 1,5 bilhão a 101,75% do CDI e R$ 4 bilhões pagando CDI mais 0,25%. A Vale é risco "triple A".

Outras empresas com classificação mais baixa fizeram emissões inteiras em "spread". A Vicunha Têxtil pagou em dezembro CDI mais 1,6%. A Brasiliana de Energia emitiu R$ 800 milhões por 9 anos a CDI mais 2,55%.

A Net Serviços de Comunicação vendeu R$ 580 milhões por 7 anos a CDI mais 0,7%. A Light colocou R$ 1 bilhão por 7 anos a CDI mais 1,75% - dependendo de seus balanços, o spread pode cair para 1,5%. Algumas empresas preferem fechar taxa prefixada e não flutuante. A energética Itapebi emitiu a segunda série de debêntures de seis anos pagando taxa prefixada 9,5% ao ano, segundo prospectos disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Depois de um final de ano muito ativo em debêntures (R$ 17,9 bilhões em dezembro), janeiro e fevereiro estão relativamente parados, e não apenas pelo fator sazonal. "Foi uma coincidência de mandatos que só irão a mercado a partir do fim de fevereiro", explica um executivo.

Estão em análise emissões no valor total de R$ 4 bilhões, mas até agora não houve registros. Em janeiro e fevereiro de 2006, os registros de debêntures foram de R$ 2,53 bilhões. O último pedido entrou na sexta-feira, para R$ 500 milhões da Cyrela. A empresa de energia elétrica Escelsa e a concessionária Via Oeste, administradora da rodovia Castello Branco, em São Paulo, estão selecionando bancos para venda de títulos.

Depois de grandes emissões dos setores elétrico e de telecomunicações, devem surgir novos setores no mercado de dívida, como o de construção civil e varejo. As construtoras, apesar de capitalizadas com venda de ações em bolsa, estão começando a tomar dívida para financiar projetos. Espera-se também a volta do setor de varejo.

Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) também começaram 2007 em ritmo lento. As emissões registradas e em análise na CVM chegam a R$ 900 milhões até dia 16. Em janeiro e fevereiro de 2006, foram registrados R$ 1,5 bilhão em FIDC.

As emissões estão mudando de perfil. Fundos multicarteira, com ativos públicos ou não padronizados (para compra de créditos podres, por exemplo), estão na lista de 2007. A movimentação para venda ou abertura de capital de bancos médios deve frear novas vendas de carteiras de crédito, que movimentaram o ano de 2006. O Cruzeiro do Sul, por exemplo, vendeu R$ R$ 505 milhões em FIDC em 2006.