Título: Investimento direto aumenta, mas país cai no ranking dos emergentes
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2007, Brasil, p. A2

O fluxo de investimentos estrangeiros diretos para o Brasil aumentou em 2006, mas o país caiu da quinta para a sétima posição no ranking dos países emergentes que mais recebem recursos para atividades produtivas, segundo números preliminares da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês). Os dados mostram que as inversões externas por aqui atingiram US$ 16 bilhões no ano passado, 5,9% a mais do que em 2005, um crescimento que não impediu a Rússia - com US$ 28,4 bilhões - e a Turquia, com US$ 17,1 bilhões - de superarem o Brasil.

As estimativas da Unctad para a economia brasileira, porém, estão defasadas, porque foram calculadas com base nas informações disponíveis até 7 de novembro: na verdade, em 2006, até o 19 de dezembro, o país já tinha recebido US$ 17,9 bilhões, de acordo com o Banco Central (BC), que prevê um fluxo de US$ 18 bilhões. Se as projeções para a Turquia estiverem corretas, o Brasil perdeu apenas uma posição no ranking dos emergentes, liderado mais uma vez pela China, com US$ 70 bilhões. Em seguida aparecem Hong Kong, Cingapura, Rússia e México.

Os números da Unctad mostram que o o fluxo global de investimentos diretos cresceu pela terceiro ano consecutivo, totalizando US$ 1,23 trilhão, 34,3% a mais do que em 2005. Ainda assim, é um número inferior ao US$ 1,4 trilhão registrado em 2000. O aumento reflete o crescimento elevado e o bom desempenho de várias partes do mundo, informa a Unctad.

Para o professor Antônio Corrêa de Lacerda, da PUC-São Paulo, os volumes de investimento recebidos pelo Brasil são razoáveis, e se devem à percepção da maior solidez das contas externas e do fato de que o crescimento, ainda que baixo, ganha consistência, num cenário de juros em queda. O resultado poderia ser melhor se o câmbio estivesse menos valorizado, o que afeta a rentabilidade de projetos ligados ao setor externo, diz ele.

Na América Latina e no Caribe, os números em 2006 foram um pouco desapontadores, apesar da expansão do investimento no Brasil e da manutenção das inversões no México em US$ 18,9 bilhões. No ano passado, o fluxo na região caiu 4,5%, para US$ 99 bilhões. Houve quedas expressivas na Colômbia (de 52%, para US$ 4,9 bilhões) e na Argentina (de 29,5%, para US$ 3,3 bilhões), motivadas, segundo a Unctad, por um recuo nas fusões e aquisições. Medidas de ampliação do intervencionismo do Estado na economia em países como Bolívia, Equador e Venezuela também podem ter afetado o fluxo para a região, acredita a Unctad.

Entre os emergentes, o destaque foi mais uma vez a China. Lacerda diz que as taxas robustas de crescimento, na casa de 10% ao ano, explicam os volumes de investimentos estrangeiros diretos recebidos pela China nos últimos anos. Em 2006, houve uma pequena queda em relação ao ano anterior, de 3,3%, mas inversões de US$ 70 bilhões ainda são muito elevadas. Além disso, no segundo lugar entre os emergentes aparece Hong Kong, território chinês, com US$ 41,4 bilhões. Logo atrás aparece outro asiático: Cingapura, com US$ 31,9 bilhões.

Segundo a Unctad, a China tem atraído investimentos de empresas transnacionais na indústria de alta tecnologia, ao passo que outros países asiáticos recebem recursos para setores manufatureiros tradicionais. Na Índia, os fluxos cresceram 44% em 2006, para US$ 9,5 bilhões. Investimentos na área de tecnologia da informação e na indústria de software explicam o aumento, avalia Lacerda.

Outro emergente que surpreendeu foi a Rússia, com investimentos de US$ 28,4 bilhões, 94,6% a mais do que em 2005. Para Lacerda, projetos relacionados ao setor de petróleo e gás devem ter abocanhado boa parte desse dinheiro.

Nos países desenvolvidos, o fluxo de investimentos diretos aumentou 47,7%, para US$ 800,7 bilhões. Os EUA ficaram com a maior parcela desses recursos - US$ 177,3 bilhões, 78,3% a mais do que em 2005. Foi o país que mais recebeu investimentos no ano passado, à frente dos US$ 169,8 bilhões do Reino Unido, que ocupara o topo do ranking no ano anterior.