Título: PMDB decide apoiar Chinaglia para a presidência da Câmara
Autor: Costa, Raymundo e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2007, Política, p. A8

O deputado Arlindo Chinaglia obteve ontem uma grande vitória política, ao conseguir, por 46 votos a 11, o apoio institucional do PMDB para sua candidatura a presidente da Câmara. O atual presidente da Casa, Aldo Rebelo, manteve a decisão de concorrer a reeleição, confiante na divisão pemedebista - dos 89 deputados da bancada, 30 não compareceram e nem mandaram voto por escrito à reunião que tomou a decisão. Mas o fato é que o caminho tomado pelo PMDB cria grandes embaraços para Aldo, pois permite que Chinaglia tente unificar a coalizão governista, dividida, como ficou demonstrado numa reunião sigilosa realizada na noite anterior pelo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro.

Chinaglia comemorou com cautela a decisão. "É um passo muito importante", disse, ao lado do presidente do PMDB, Michel Temer (SP), tão logo foi anunciado o resultado da votação. Aldo, por seu turno, reafirmou a candidatura. "É uma candidatura da instituição", afirmou. A aposta de Aldo é que com os votos de PSDB e PFL, a dissidência no PMDB e outros partidos aliados ele consiga se impor sobre Chinaglia na eleição de 1 de fevereiro. O PFL já declarou apoio formal a Aldo, mas o PSDB, embora tenha assumido compromisso com a candidatura, ainda não assumiu oficialmente o apoio. O deputado Jader Barbalho (PA), que já presidiu o PMDB, no entanto, advertiu que a elasticidade do resultado da votação deve assegurar o respeito à decisão da bancada, por grande maioria.

Em entrevista no Planalto, o ministro Tarso Genro admitiu que os partidos da base podem, "civilizadamente", ter dois candidatos. "Devemos estar atentos, governo e partidos, para o eventual surgimento de uma terceira candidatura que polarize e que possa desestabilizar a previsibilidade do processo. Se tivermos dois candidatos da base com 90% dos votos, não há nenhum problema para o governo", disse.

Com a decisão, o PMDB estaria se mostrando ao governo como o fiel da balança na Câmara, além de restabelecer o jogo dos grandes partidos na Casa - em 2009, o PT se compromete a apoiar um candidato pemedebista na reeleição de Chinaglia. O partido concentraria então grande poder, pois manteria ainda os ministros que indicará quando Lula fizer a reforma ministerial, em fevereiro. São quatro as Pastas previstas, mas podem ser cinco.

O grupo que apóia Aldo, no entanto, acha que vai se acirrar, a partir de agora, a disputa interna do PMDB pela interlocução com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A reunião de ontem foi articulada, convocada pelo presidente Michel Temer, o líder na Câmara Wilson Santiago (PB) e todo o grupo que antes estava na oposição a Lula e agora decidiu se aliar ao PT. Além dos 46 votos dados a Arlindo (seis deles enviados por fax) e os 11 a Aldo, houve ainda seis votos em nenhum dos dois e um em branco. Ou seja, em fevereiro (o PMDB terá então 91 deputados, com adesões já anunciadas) o resultado será mais ou menos parecido, com metade do partido votando em Chinaglia e a outra metade em Aldo.

É esse o cenário de racha na base que Chinaglia precisa desmontar. Suas chances aumentaram com o apoio institucional do PMDB, que pode até levar Lula a pedir a desistência de Aldo, o que o atual presidente da Câmara afirma que não fará. Aliados de Chinaglia e Aldo reconhecem que o Planalto, e principalmente o presidente Lula, demoraram demais a "ungir" seu candidato e que, agora, com as candidaturas a pleno vapor, diminuem os espaços para recuos.

As tentativas de pacificação permanecem. Na segunda-feira, Genro chegou a sondar aliados de Aldo para descobrir qual seria a disposição do comunista em abrir mão da disputa para ocupar a pasta da Defesa. O petista deixou claro que não estava oferecendo explicitamente o cargo, já que a tarefa de nomeação ministerial cabe ao presidente. Mesmo assim, ouviu uma recusa e a afirmação de que Aldo será candidato até o fim. Genro negou que tenha feito a oferta. "Eu não tenho poder para negociar ministério. A ministra Dilma (Rousseff) não tem".

Depois de uma reunião com os líderes e presidentes de partidos aliados, Tarso Genro começou a admitir que o consenso é complicado e que, no limite, chegar ao plenário com duas candidaturas governistas não seria tão traumático assim. O problema seria abrir espaço para um terceiro candidato. Aliados do Planalto não pensam desta maneira. Acreditam que, se houver uma terceira via, ela será, automaticamente, a segunda opção, já que os aliados entrarão divididos na Casa.

Com Aldo e Chinaglia disputando voto a voto no plenário, são grandes as as chances de turbulência no Legislativo. "Quem vencer, vai atribuir o êxito aos próprios méritos e não ao Planalto. Quem for derrotado, vai jogar a culpa no Planalto. E vai ficar vagando, pelo Congresso, como ficaram os derrotados na disputa de 2005", recorda um dos líderes partidários.

A hesitação do presidente Lula pesou e muito na situação atual. "Quando um governador é eleito, empenha-se em eleger o presidente da Assembléia. Quando um prefeito é eleito, empenha-se em eleger o presidente da Câmara Municipal. Só no governo federal que o presidente Lula acha que não deve envolver-se na disputa", reclamou um integrante da coalizão governista.

Lula não só demora a decidir-se como emite sinais ambíguos. Partidários de Aldo lembram que, a diversos interlocutores, o presidente disse que preferia a reeleição do comunista. Mas, em nenhum momento, disse ao PT que abortasse o projeto Chinaglia. Agora fica difícil de cobrar recuos. "O gênio já está fora da garrafa. Não há como pedir para que ele volte", comparou o presidente do PCdoB, Renato Rabelo.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, reconhece que essa divisão é um péssimo início para a coalizão governamental. E espera que o presidente Lula decida logo. "Essa situação já chegou longe demais", avalia o pedetista. Na realidade, o PT cobrou a solidariedade de Lula e o presidente correspondeu, avaliava ontem um integrantes da cúpula do PMDB. Ele poderia simplesmente ter evitado que Marco Aurélio Garcia, então na presidência do PT, enviasse a carta com a proposta de um acordo ao PMDB - Lula foi consultado antes. Os aliados de Aldo reclamam da interferência ostensiva dos ministros petistas em favor de Aldo e estranharam uma entrevista concedida pelo ex-ministro José Dirceu apoiando o nome de Aldo para o Ministério da Defesa.