Título: Bolsa de Caracas tem queda de 19%; empresas esperam contato do governo
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2007, Internacional, p. A10

As declarações de Hugo Chávez foram recebidas com espanto pelos principais acionistas da Compañia Anónima Nacional Teléfonos de Venezuela (Cantv) e da Electricidad de Caracas (EDC). Os controladores aguardavam um contato do governo, mas até o fim do dia estavam sem saber quando e como se dará a nacionalização de setores estratégicos.

"O governo precisa explicar sua posição para os controladores desta empresa, os acionistas, e apresentar um plano dizendo como isso será feito e quanto irá pagar", afirmou à agência Dow Jones o diretor financeiro da Cantv, Armando Yañes.

A falta de informações agravou o caos no mercado acionário. A Comisión Nacional de Valores (a CVM da Venezuela) pediu calma aos investidores, mas o apelo não impediu que a Bolsa de Caracas fechasse em queda de 18,7%. Os negócios com ações da Cantv só foram abertos a 15 minutos do fim do pregão, mas caíram 30%. As transações com papéis da EDC foram paralisadas ainda pela manhã, após baixa de 20%. Nos próximos dois dias, as negociações das duas empresas ficarão suspensas. Em Nova York, as ações da AES - controladora da EDC - caíram 4,1%, a maior queda em cinco meses.

"O clima é de temor e incerteza", resumiu o analista Alfredo Puerta, da corretora Econoinvest.

A situação é particularmente delicada para a Cantv. Primeiro, porque a companhia, privatizada nos anos 90, foi a única a ter o nome citado por Chávez. Segundo, porque a operadora foi pega em meio ao processo de venda da participação da americana Verizon, sua maior acionista, para as mexicanas Telmex e América Móvil (ambas de Carlos Slim).

O capital da Cantv é diluído. A Verizontem participação de 28,5%. A espanhola Telefónica tem 6,9%. O Estado venezuelano, funcionários e fundos detêm o restante.

Um porta-voz da Verizon afirmou que a companhia não havia sido comunicada pelo governo venezuelano sobre as medidas e, por isso, não comentaria o assunto. "Continuamos a acompanhar e esperamos o detalhamento desse anúncio", disse.

A Telmex distribuiu comunicado afirmando que o acordo para adquirir a fatia da Verizon (por US$ 676 milhões) expira em 28 de fevereiro e está sujeito à aprovação de órgãos reguladores, o que ainda não aconteceu. O contrato, de abril de 2006, foi renovado em 29 de dezembro.

A corretora americana Bear Stearns avaliou que, se abortar o negócio, a nacionalização poderá ser positiva para os mexicanos, pois livrará o grupo de uma "armadilha".

Ao longo do dia, surgiram especulações de que a América Móvil poderia ficar com a unidade de celular da Cantv, enquanto o Estado controlaria as operações fixas.

As ações da Telmex, América Móvil e Telefónica caíram nos mercados mexicano e espanhol, respectivamente. Os papéis da Verizon subiram em Nova York.

Para a corretora Dresdner Kleinwort, a nacionalização é "alarmante" para a Telefónica, mas uma mudança na lei de comércio será ainda pior. O grupo também detém a Movistar, segunda maior operadora de celular da Venezuela.

Quanto à EDC, não está claro se os planos incluem a concessionária porque ela nunca foi estatal, disse Lasan Johong, analista da RBC Capital Markets. (Com agências)