Título: Para analistas, queda do petróleo pode fazer Chávez desacelerar o socialismo
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2007, Internacional, p. A10

A recente queda nos preços internacionais do petróleo poderá acender, em algum momento, uma luz de alerta em Caracas e obrigar o governo do presidente Hugo Chávez a rever o ritmo dos gastos e investimentos estatais. Isso traria reflexos diretos ao projeto de estatização de alguns setores da economia, que tenderia a andar num ritmo mais lento, avaliam analistas venezuelanos ouvidos ontem pelo Valor.

Para o diretor da Datanalisis, um instituto de análises econômicas da Venezuela, Luis Vicente Leon, se os preços internacionais voltarem ao patamar dos US$ 40, Chávez trataria de refazer seus planos. "O governo armou sua estratégia de gastos com base no petróleo e uma queda superior a 20% em relação à cotação atual (de US$ 52) começaria a diminuir a margem de manobra do governo", acredita o analista.

Não que faltem recursos ao país. Nos últimos anos, as exportações da commodity elevaram as reservas para US$ 34 bilhões. Leon avalia que mesmo com o barril a US$ 40, o governo Chávez teria condições de manter por mais dois anos seu ritmo de gastos. "O problema é que haveria uma mudança de percepção em relação à principal fonte de recursos do país."

Parece ser consenso entre especialistas que, se tivesse menos recursos em caixa, Chávez dificilmente se sentiria tão à vontade para falar em reestatização dos setores de telefonia e de energia.

Para outro analista venezuelano, Rafael Villa, atual coordenador do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), o petróleo teria de cair mais para conter os ímpetos estatizantes de Chávez. "Até cerca de US$ 30, o país continua tendo lucro suficientemente alto para aumentar o presença do Estado na economia", diz.

O aumento da participação estatal baseada no preço do dólar é uma história já conhecida pelos venezuelanos. Durante a primeira crise do petróleo, no início dos anos 70, o então presidente Carlos Andrés Perez, adotou medidas semelhantes às do atual governo. "O governo também tomou a iniciativa de estatizar uma séria de setores da economia devido à abundância de recursos", lembra o diretor-geral da Câmara de Comércio Venezuela-Brasil, Fernando Portela. Com a baixa da cotação, o Estado foi gradualmente transferindo para a iniciativa privada a gestão das empresas públicas.

Quando Chávez chegou ao poder em 1999, a cotação internacional do petróleo girava em torno de US$ 8. No ano passado, superou os US$ 70. Ninguém acredita que o preço volte ao preço de oito anos atrás. Mas um eventual recuo para US$ 40 ou US$ 30, levaria Chávez a pelo duas escolhas: buscar formas alternativas de financiamento, abrindo o país para mais investimentos externos. "A segunda alternativa seria ele aprofundar a radicalização tomando controle da propriedade privada no país", considera Luis Vicente Leon.