Título: Calor e fundos derrubam preço do petróleo
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2007, Empresas, p. B8

A falta de neve na região Nordeste dos Estados Unidos e um movimento de realização de lucros por parte de alguns fundos de investimento derrubaram o preço do petróleo. A queda foi tão brusca que durante o pregão de ontem a commodity chegou a ser vendida a US$ 53,88 na Bolsa Mercantil de Nova York, o menor valor desde 10 de junho de 2005, quando o barril ficou em US$ 53,54.

Em Nova York, o tipo WTI para entrega em fevereiro fechou ontem a US$ 55,64, queda de 45 centavos de dólar. Já na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres a commodity do tipo Brent também para fevereiro foi vendida a US$ 55,18, queda de 42 centavos de dólar. Nos dois casos as cotações ficaram acima do dia 4 deste mês.

"O clima está mais quente e isso possibilitou que o produto não fosse usado no sistema de calefação, provocando aumento dos estoques", afirma Luiz Otávio Broad, analista de petróleo da Ágora Corretora. "Não há qualquer fundamento que justifique aumento de preço do petróleo no atual momento", complementa David Zylbersztajn, da consultoria DZ.

O preço do petróleo vem caindo desde a semana passada no mundo, fruto das temperaturas nada comuns para esta época do ano nos Estados Unidos. No Central Park, em Nova York, por exemplo, a temperatura chegou na segunda-feira, por volta das 16h (em Brasília), a cerca de 22,2ºC. Foi a maior temperatura registrada na região do parque para um mês de janeiro desde que a medição começou a ser feita, no final do século XIX, segundo o Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos.

Além disso, o Departamento de Energia dos Estados Unidos divulgou uma queda de 1,3 milhão de barris no estoque de petróleo. Porém, as reservas de produtos destilados não seguiram o mesmo caminho. O estoque de gasolina, por exemplo, aumentou em 5,6 milhões de barris.

O analista da Ágora Corretora acredita que o barril de petróleo negociado em Nova York deverá ter um preço médio de US$ 57 ao longo de 2007, contra uma média de US$ 66,1 registrada em 2006. Para ele, a commodity neste ano voltará aos preços médios registrados em 2005, quando não se registrou grandes conflitos geopolíticos ou mesmo fortes catástrofes naturais. "Somente no final de 2005, tivemos uma forte onda de furacões, que interromperam a produção de petróleo."

O petróleo tem grandes chances de observar um movimento maior de queda, já que a diferença entre produção e demanda deverá continuar ao redor de 1 milhão de barris por dia. Atualmente, a demanda no mundo está próxima de 84,5 milhões de barris por dia, cerca de um milhão menor que a oferta.

"Não ficaria surpreso se o petróleo caísse mais no mercado internacional, voltando aos patamares de US$ 49 ou até menos. Isso, porque esperava que ele só diminuísse para US$ 55 em fevereiro deste ano, fato que já acontece em janeiro", afirma Zylbersztajn.

Para Doug Leggate, do Citigroup, o clima não foi o principal motivo a empurrar o mercado para baixo. O grau do declínio indica que houve fundos que aproveitaram para vender o produto, de forma que as perspectivas técnicas poderiam ser um indicador crucial da direção futura das cotações.

Desde o início do ano, os preços do petróleo caíram mais de 11%, o que pode obrigar a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) a tomar mais medidas para tentar estabilizar o mercado. A Opep já reduziu suas cotas de produção em 1,7 milhão de barris diários, em dois cortes, e os membros do grupo discutem agora novas reduções em uma possível reunião emergencial antes do próximo encontro oficial, marcado para 15 de março.

Um porta-voz da Opep confirmou que os ministros do grupo conversaram por telefone para discutir o declínio dos preços. Alguns representantes e ministros do grupo, no entanto, disseram que a Opep deverá esperar para avaliar o impacto do segundo corte, a ser implementado em fevereiro, antes de decidir passos futuros.

"Não acredito que tomemos nenhuma medida de imediato neste assunto, a menos que os preços continuem a cair", disse uma fonte da Opep ao "Financial Times". "É mais provável que esperemos para ver como o mercado reage ao corte em 1º de fevereiro."

De acordo com um analista técnico, a próxima marca psicológica para o petróleo seria a de US$ 50 por barril. Os negociadores de curto prazo, que aproveitam o momento para apostar em qualquer tendência definida do mercado, viram no atual mercado a oportunidade de testar até que ponto os preços podem descer.