Título: PAC condiciona novo ministério
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 30/01/2007, Política, p. A8

Com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na rua e a disputa eleitoral do Congresso resolvida, o enredo do segundo mandato de Lula começa a ganhar forma. A trama segue com a escalação do novo ministério, que o presidente prometeu para depois das eleições na Câmara e no Senado, mas que pode ficar para depois do Carnaval ou até mesmo adentrar pelas águas de março. De bate-pronto ou aos pedaços, o autor corre o risco de se enredar nas teias da própria obra, a exemplo do que ocorreu com as eleições das Mesas.

Na eleição da Câmara, Lula teve de engolir a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP), quando manifestava evidente preferência pela reeleição de Aldo Rebelo. Na formação do novo ministério, o ministro Tarso Genro pode trocar as Relações Institucionais pela Justiça por W.O. O presidente já teve três ou quatro oportunidades de deslocar o ministro para a Justiça, objeto de desejo declarado de Tarso Genro. Mas não se moveu, apesar dos reiterados pedidos de Márcio Thomaz Bastos, o atual titular da Pasta, para voltar para casa.

Das duas uma: ou Lula não tem o novo ministério na cabeça ou tem e não convidou ninguém (só teria confirmado alguns dos que ficam). Prova disso é que fez três sondagens ao ministro Sepúlveda Pertence, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na terceira, Pertence respondeu ao emissário que, se o presidente realmente o queria para o lugar de Thomaz Bastos, que fosse falar com ele. Lula sondou Marta Suplicy. Mas também não falou com a ex-prefeita.

Tarso Genro conhece Lula e sabe interpretar seus movimentos. Como o autor demonstrou indecisão sobre o papel a ser desempenhado pelo personagem, não surpreenderá os amigos se o ministro tentar se encaixar na narrativa como o PT fez com a candidatura de Chinaglia. À revelia do autor. Eleitas as Mesas da Câmara e do Senado, Genro pode procurar lula para dizer que considera cumprida sua missão no comando da coordenação política do governo e que está pronto para novos desafios. E com isso forçar uma definição que o presidente evitou até agora.

Pedra angular do segundo mandato e da coalizão de partidos que Lula articula no Congresso, o PAC é a mais recente justificativa para eventual atraso na nomeação da nova equipe. Lula quer o compromisso fechado dos 11 partidos da aliança com as sete medidas provisórias e cinco projetos de lei previstos no programa. Ocorre que nem no PT nem no núcleo central de governo existe tal consenso.

-------------------------------------------------------------------------------- Tarso Genro pode ir para a Justiça por W.O. --------------------------------------------------------------------------------

Havia um PAC original e um PAC derivado. O original estava na cabeça dos ministros que declararam o fim da "era Palocci", teoria verbalizada pelo ministro Tarso Genro, mas com adeptos em áreas do governo e do PT. Seria ousado, reformista e corajoso, segundo a adjetivação dos chamados desenvolvimentista. Radical e xiita, na prática tentava, entre outras coisas, fazer a política de juros do Banco Central caber no programa.

O que saiu foi o PAC derivado, resultado de intensas negociações internas, e que não muda a política econômica. Isso acalmou um personagem que já definiu o próprio papel no enredo: o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Eleito deputado pelo PT de São Paulo, Palocci chegou a pensar numa volta em alto estilo, talvez até mesmo disputar a presidência da Câmara, mas agora seu projeto é "hibernar" nos próximos dois anos.

Bem relacionado, simpático, comandante de uma área "que deu certo", cujo único pecado teria sido a quebra do sigilo bancário de um simples caseiro, o ex-ministro não será um deputado de grandes discursos ou de plenário. Mas acredita que ainda pode exercer influência nos bastidores do Congresso e do governo. O que vai fazer a partir de 2009, ele mesmo não sabe dizer. Mas tem claro como vai caminhar nos bastidores.

Em "hibernação", pretende ser uma espécie de "ombudsman" da política econômica e vai observar com lupa os movimentos da ala desenvolvimentista que decretou o fim de sua "era", na qual inclui a ministra Dilma Rousseff (chefe da Casa Civil). Dilma assumiu integralmente a maternidade do programa e a condição de presidenciável do PT. Está forte. Se não mudou nada agora, raciocinam os paloccistas, pode ser que numa outra tentativa os desenvolvimentistas tenham êxito. O melhor a fazer é ficar de olho. Nessa hipótese, Palocci sai da toca antes de 2009. Essa é uma disputa que não acabou e que seguirá depois que Lula botar o ponto final no capítulo do novo ministério.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras