Título: Gerdau cotado para ministério de Lula
Autor: Romero, Cristiano e Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 30/01/2007, Política, p. A9

O nome do empresário Jorge Gerdau Johannpeter, líder do Grupo Gerdau, voltou a figurar na lista de ministeriáveis do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O empresário está cotado para assumir o lugar de Luiz Fernando Furlan no comando do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Furlan, segundo informou ao Valor um assessor graduado do governo, teria decidido deixar mesmo o posto, atendendo a apelos da família. O temor dos familiares é que, permanecendo no cargo, ele se afaste por muito tempo do Grupo Sadia, do qual era o principal executivo até 2002, antes de virar ministro, e um de seus acionistas controladores. Se dependesse apenas de sua vontade, o presidente manteria Furlan, por quem tem grande apreço, mas estão pesando, no desfecho desse caso, as razões de caráter pessoal do ministro.

Gerdau se transformou numa espécie de "sonho de consumo" de Lula. Em meados do ano passado, antes mesmo da eleição, o presidente começou a matutar a idéia de tê-lo no governo. O presidente se afeiçoou ao empresário desde que ele passou a lhe dar conselhos de como acelerar o crescimento da economia brasileira. Gerdau foi um dos inspiradores do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado na semana passada. Lula convidou-o, em mais de uma oportunidade, a acompanhá-lo em viagens ao exterior.

Nas conversas que os dois tiveram desde então - a última foi em Davos, durante o Fórum Econômico Mundial -, Gerdau apontou os obstáculos que estariam impedindo o país de crescer mais rápido. Falou tanto dos gargalos do setor produtivo quanto dos problemas fiscais - foi Gerdau quem levou ao Palácio do Planalto o consultor Vicente Falconi, especialista em gestão, interessado em aplicar seus métodos para reduzir o déficit da Previdência Social.

Lançado o PAC, o presidente, segundo um colaborador, decidiu começar a tratar da montagem do ministério para o segundo mandato. O processo deve se acelerar após a eleição da presidência da Câmara dos Deputados, na quinta-feira. O resultado da eleição influenciará as decisões de Lula.

Se o deputado petista Arlindo Chinaglia (SP) vencer a disputa, é certo que a ex-prefeita Marta Suplicy ganhará um ministério forte, provavelmente, a Pasta das Cidades. O raciocínio, segundo um assessor do presidente, é o de que a vitória de Chinaglia terá representado a reunificação do PT, especialmente o de São Paulo, do qual Marta é hoje a principal expoente. Quem também ganhará espaço no governo será o PMDB, partido da base aliada que decidiu apoiar a candidatura petista.

Para o comando do Ministério da Justiça, a tendência é que Tarso Genro, hoje responsável pela articulação política, seja o escolhido. Um colaborador do presidente diz, no entanto, que o presidente "não fechou ainda". O problema estaria na Polícia Federal, que é subordinada à Justiça. O atual diretor da polícia, Paulo Lacerda, deixará o cargo e o Palácio do Planalto quer evitar que o PT, que tem integrantes sendo investigados pela PF, assuma o comando da autarquia.

Lula não definiu prazo para concluir a reforma do ministério. Ele pode tanto anunciar suas escolhas em meados de fevereiro quanto deixar para fazer isso em março. Neste momento, o que é dado como certo é a manutenção do chamado "núcleo operacional" do governo, integrado pelos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento) e Henrique Meirelles (Banco Central). Enquanto não faz as nomeações, o presidente tem conversado com interlocutores que devem influenciar em suas decisões.

Em conversas reservadas com o presidente, o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (ex-PPS), por exemplo, tem avançado em sua estratégia de indicar nomes sem fazer alarde. Único líder ruralista a apoiar Lulas nas eleições, Maggi teve uma dezena de reuniões com Lula e até hospedou o presidente em sua fazenda, em Sapezal (MT), no fim de novembro.

O vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, Derci Alcântara, conta com o aval de Maggi para permanecer no segundo mandato petista. E o suplente de senador Luiz Antônio Pagot (ex-PPS), principal articulador político de Maggi no Estado, deve assumir a direção-geral do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT). "Está 90% certo", resumiu Pagot ao Valor. "Mas não está sacramentado."

A incerteza é creditada a um mal-estar entre Maggi e o senador eleito Alfredo Nascimento (PR-AM) sobre a "paternidade" da indicação. Cotado para voltar ao Ministério dos Transportes, Nascimento teria feito o acordo diretamente com Pagot, sem passar por Maggi. Nesses termos, ele não estaria disposto a bancar Pagot, nomeado secretário de Educação em Mato Grosso. O movimento teria provocado, inclusive, o afastamento de Maggi do PR, que nasceu da fusão do PL com o Prona. Agora, o governador busca o aval de Lula para formar um novo partido. O objetivo seria evitar o crescimento "excessivo" do PR e sua eventual aproximação com um candidato de oposição à sucessão de Lula. Assim, com um novo partido, o reeleito Maggi pavimentaria seu caminho para um cargo nacional em 2010.

Além de comandar 12 postos-chave federais em Mato Grosso, Maggi trabalha para indicar outros nomes em diretorias e superintendências nacionais. Ele busca acomodar os interesses do PTB e do PFL de seu Estado em Brasília. Trabalha para emplacar o ex-deputado Rodrigues Palma na diretoria da Eletronorte e Décio Coutinho na Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura. Maggi também busca postos de expressão na Caixa Econômica Federal, Funasa, Incra, Ibama e na Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA). No Estado, também quer o comando desses órgãos, além do INSS e da Receita Federal.

O governador de Mato Grosso também será avalista do novo ministro da Agricultura. Maggi reluta em indicar um nome, mas apóia alguns movimentos, como o remanejamento do ministro das Cidades, Márcio Fortes. O deputado Waldemir Moka (PMDB-MS) também tem a simpatia de Maggi.