Título: Selic perde peso no custo do crédito
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 30/01/2007, Finanças, p. C1

A taxa Selic perdeu um pouco de sua importância para explicar os altos juros cobrados pelo sistema financeiro. Em dezembro de 2006, os custos de captação dos bancos - que são fortemente influenciados pela Selic - representaram 31,7% dos juros cobrados pelos bancos dos seus clientes, ante 39,1% em setembro de 2005, quando o Banco Central começou o atual ciclo de relaxamento da política de juros. Os dados, divulgados ontem pelo Banco Central, significam que, cada vez mais, as quedas nos juros cobrados dos clientes vão depender da redução dos "spreads" bancários.

Terão peso relativamente maiores medidas que ampliam a competição entre as instituições financeiras, a redução dos depósitos compulsórios e impostos e medidas que facilitam a recuperação de empréstimos inadimplentes pelos bancos.

Mas isso não significa que a Selic perdeu completamente sua importância. Dependendo de quão longo e profundo for o atual ciclo de afrouxamento da política monetária, a taxa Selic ainda poderá dar alguma contribuição para a redução dos juros bancários - sobretudo nos financiamentos às empresas.

No caso das pessoas jurídicas, a Selic respondia por 58,3% dos juros cobrados pelos bancos às empresas. De lá para cá, o peso da taxa básica caiu para 48,5%, mas o percentual não deixa de ser relativamente alto - grosso modo, pode-se dizer que metade das taxas cobradas das empresas é explicada pelos custos de captação dos bancos, que, por sua vez, está ligada à taxa Selic.

Os números mostram que, no caso das empresas, as taxas cobradas pelos bancos podem reduzir tanto pela queda da Selic quanto pela redução dos "spreads". De setembro de 2005 para cá, a redução das taxas médias se deveu sobretudo ao repasse aos clientes dos ganhos que os bancos tiveram com a redução da Selic. O "spread" caiu apenas marginalmente.

De setembro de 2005 a dezembro de 2006, os juros básicos caíram 6,5 pontos percentuais (pp.), de 19,75% para 13,25% ao ano (em janeiro, foram para 13% ao ano). As taxas médias cobradas pelos bancos das empresas caiu 7,10 pp., dos quais 6,7 pp. se referem à queda dos custos de captação e 0,4 pp. se deve à redução dos "spreads" pelos bancos.

"Não é de se esperar que cortes na Selic levem à queda nos 'spreads', a não ser pelo aumento do volume de operações e pelos ganhos de escala obtido pelos bancos", explica o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. "O essencial é que os bancos repassaram aos clientes integralmente os cortes feitos pelo BC nos juros básicos."

Ele observa que, no caso das empresas, o "spread" não caiu muito porque os bancos estão emprestando cada vez mais para micro e pequenas empresas. Seu risco de crédito é mais elevado, por isso os bancos cobram taxas maiores. As grandes empresas estão buscando financiamentos no mercado de capitais.

No crédito a pessoas físicas, a taxa Selic, que em setembro de 2005 respondia por 29% das taxas cobradas pelo sistema financeiro, passou a representar 24% dos juros em dezembro de 2006. Olhando os números de outro ângulo: a participação do "spread" nos juros à pessoa física cresceu de 71% para 76%.

A taxa de juros média cobrada das pessoas físicas caiu de 62,1% para 52,1% entre setembro de 2005 e dezembro de 2006. Essa queda se deve tanto à redução dos custos de captação dos bancos (que encolheu 5,5 pp.) quanto pelo corte nos "spreads" (4,5 pp.). A queda no custo de captação dos bancos foi menor do que o corte dos juros básicos (6,5 pp.) porque, em setembro de 2005, o mercado antecipou o corte que ocorreu em seguida na taxa Selic.