Título: Etanol: para uma parceria no Hemisfério
Autor: McLarty III, Thomas F.e Arrizurieta, Jorge L.
Fonte: Valor Econômico, 29/01/2007, Opinião, p. A13

Com o novo Congresso composto atualmente em Washington, está na hora de um novo consenso de ambos os partidos sobre o livre comércio com nossos vizinhos do sul. Nenhuma mercadoria é mais promissora para preencher lacunas do que o etanol. No fim do ano passado, legisladores estenderam a taxa de 54 centavos por galão de etanol importado até janeiro de 2009.

A barreira protecionista tem como alvo principal o Brasil - embora a verdade seja que atualmente não existe tanta reserva de etanol para importar de qualquer forma. Entretanto, em breve a influência do etanol no Hemisfério Ocidental será enorme - estendendo-se muito além de seu valor como fonte de energia. Uma política americana perspicaz e pró-ativa para o etanol poderia estimular maior parceria no hemisfério - não só fortalecendo a segurança energética nas Américas, mas transpondo diferenças comerciais em Washington, construindo relações mais fortes ente os Estados Unidos e nossos vizinhos latinos, e ajudando nações pobres a impulsionar suas economias e construir uma vida melhor para seus povos.

É por isso que no mês passado em Miami reunimos o governador da Flórida, Jeb Bush, o ex-Ministro da Agricultura do Brasil e hoje presidente do Conselho Superior de Agronegócio (FIESP) Roberto Rodrigues, e o presidente do Banco Inter-Americano de Desenvolvimento Luis Alberto Moreno no lançamento de uma organização chamada Comissão Interamericana do Etanol (Interamerican Ethanol Commission-IEC).

A meta da Comissão é promover a produção e consumo do etanol nas Américas. Será como uma câmara de compensação para informações científicas e técnicas sobre o etanol nas Américas, promoverá investimentos do setor privado para ajudar governos a criarem um clima adequado para negócios da indústria, usará o combustível como ponte para resolver diferenças comerciais em todo o hemisfério, e trabalhará com nações pobres para desenvolver o etanol como fonte de energia para impulsionar o desenvolvimento econômico.

O IEC implementará a proposta do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva para os Estados Unidos e Brasil - os produtores líderes mundiais de etanol - de juntar inovações e recursos do etanol e ajudar outras nações a lidar com seus déficits de energia. No processo, nossas duas nações construirão valor como parceiros com um antídoto à dependência de petróleo e à pobreza.

A Colômbia, Argentina, Costa Rica, El Salvador, Guatemala e Jamaica já tornaram o desenvolvimento do etanol prioridade principal . Com o know-how tecnológico e investimento de capital dos Estados Unidos e Brasil, seus planos para o desenvolvimento do etanol poderiam se tornar realidade.

O avanço do etanol aparece no momento em que as economias de todo o hemisfério estão crescendo. Um relatório recente do Fundo Monetário Internacional mostrou que o crescimento real na América Latina e Caribe nos últimos três anos foi o "mais vigoroso" período da expansão econômica desde os anos 70.

-------------------------------------------------------------------------------- O etanol é singular em termos de posição para criar um bem autodesenvolvido que propicie um produto de exportação estável e supra as necessidade de energia --------------------------------------------------------------------------------

Entretanto, mais pode e deve ser feito para assegurar que o crescimento se espalhe pelos setores econômicos, e de forma sustentável no longo prazo. O etanol é singular em termos de posição para criar um bem auto-desenvolvido que não só supre as necessidades em termos de energia, mas propicia um produto de exportação estável.

Os Estados Unidos certamente serão um parceiro forte na aliança do etanol. Segundo estimativas, a indústria de etanol americana apresenta estabilidade para produzir louváveis 4,7 bilhões de galões este ano, e especialistas do setor prevêem que os produtores acrescentarão pelo menos 7,5 bilhões de galões ao suprimento de energia da nação até o ano 2012. Investidores americanos, incluindo Bill Gates, estão apoiando o esforço à medida que novas fábricas de etanol estão sendo planejadas em todo o cenário americano - e fora do Cinturão do Milho - da Califórnia à Florida. Mas precisamos mirar mais alto.

O governador Bush determinou que a administração dobre as metas de consumo de etanol nos Estados Unidos para alcançar o alvo de 15 bilhões de galões até 2015, suplantando em cerca de 10 por cento a nossa demanda de gasolina. No plano do governador, denominado "15-por-15", os Estados Unidos não dependeria de ingenuidade caseira em termos do desenvolvimento de bio-combustíveis, mas procuraria outras nações do hemisfério como fornecedores de etanol .

Líderes Democratas no Congresso já pediram um maior consumo de etanol nos Estados Unidos, abrindo a porta para o etanol importado, na medida em que aumenta a demanda para fontes renováveis e limpas de energia. E o respeitado senador Republicano Richard Lugar argumentou que "faz sentido do ponto de vista estratégico importar etanol ambientalmente amigo de um amigo de confiança como o Brasil", salientando que o etanol dos produtores do meio oeste do nosso país tem poucas perspectivas atualmente "de comercializarem grandes volumes de seu produto na costa leste."

Até a taxa do etanol expirar em janeiro de 2009, a indústria do etanol dos Estados Unidos certamente terá tido tempo suficiente para conseguir sua base competitiva. Nessa época, senão antes, devemos retirar de nossa legislação fiscal a contradição fulgurante que trata o petróleo importado como mercadoria não taxada, mas penaliza fortemente a fonte renovável em que os Estados Unidos está confiando para reduzir nossa dependência de energia - e que pode ser uma importante ponte para parcerias mais fortes dentro do nosso hemisfério.

Thomas F. McLarty III foi chefe de gabinete e enviado especial para as Américas do presidente Bill Clinton, e atualmente é presidente da Kissinger McLarty Associates, parceria internacional de consultoria estratégica.

Jorge L. Arrizurieta é presidente da Akerman Senterfitt´s International Policy Group e foi diretor-executivo suplente dos Estados Unidos no Banco de Desenvolvimento Interamericano e presidente da Florida FTAA.