Título: Rendimento sobe mais que ocupação em 2006
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2007, Brasil, p. A4

Pela primeira vez em cinco anos, o rendimento médio dos brasileiros apresentou um crescimento acima do mostrado pela ocupação. Em 2006, enquanto o emprego total aumentou 2,3%, a renda do trabalhador ficou 4,3% maior. Isso foi possível devido à combinação de inflação mais baixa, reajuste real no salário mínimo e forte criação de vagas com carteira de trabalho assinada, que remuneram melhor.

Com esses resultados, a massa de salários avançou 7,2% no ano passado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que considera o rendimento habitualmente recebido pelas pessoas empregadas. Foi o terceiro ano consecutivo de forte incremento no indicador.

Em nove dos 12 meses de 2006, nove houve crescimento do rendimento médio, quando comparado com o mês imediatamente anterior. Isso nunca havia ocorrido dentro da série nova da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) , que teve início em março de 2002. Em 2005, a massa teve expansão de 8,4% e, no ano anterior, cresceu 5,4%. Nesses dois anos, no entanto, a ocupação aumentou mais do que a renda.

A elevação dos rendimentos foi obtida mesmo sem grande ajuda do setor que costuma pagar os melhores salários: a indústria. Em 2006, esse ramo de atividade abriu 68 mil postos de trabalho. Foi bem pouco se comparado ao total de vagas com carteira assinada criadas pelo setor privado: 363 mil. "Mesmo que todos os empregos criados pela indústria fossem formais, ainda faltariam 295 mil para chegar ao total gerado no setor privado", diz Marcelo de Ávila, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Isso significa que outros setores que, tradicionalmente, não costumam contratar muita gente de modo formal, estão agora com mais trabalhadores com carteira assinada. Fábio Romão, economista da LCA Consultores, lembra que desde fevereiro de 2005 a expansão do trabalho formal é maior do que a do sem carteira assinada. "Esse movimento começou na indústria, com o bom desempenho das exportações. E, agora, os demais setores estão trilhando o mesmo caminho", explica Romão.

E esse movimento ajuda na alta do rendimento. Enquanto, em média, um emprego com carteira paga um salário mensal de R$ 1.054, um trabalhador informal recebe R$ 689. Em 2006, a variação do emprego sem carteira foi negativa em 0,9%, resultado do fechamento de 56 mil postos sem vínculo empregatício. No ano anterior, o emprego informal tinha avançado 2,1%. "Dessa forma, acaba por ocorrer um efeito compensação e a média dos rendimentos é puxada para cima", explica Ávila, do Ipea.

Serviços foi a atividade que mais contribuiu na criação de empregos nas regiões metropolitanas ao longo do ano passado. Segundo o IBGE, só esse ramo empregou mais 108 mil pessoas no ano passado. O segmento denominado outros serviços abriu 136 mil postos. O comércio também foi bem, com 67 mil vagas, quase a mesma marca da indústria.

Para 2007, a LCA não aposta em um desempenho tão bom do rendimento. Como neste ano o salário mínimo não vai crescer tanto e a inflação deve ficar em um patamar acima do 3,1% do ano passado, Fabio Romão projeta um alta de 1,8% no rendimento. A ocupação, por sua vez, deve seguir a mesma toada de 2006 e se expandir em 2,7%, segundo cálculos com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE. Com isso, a estimativa é de um crescimento de 4,6% na massa de salários. Para 2006, a projeção da LCA Consultores é de alta de 5,1% na massa, com expansão de 2,7% na ocupação e de 2,4% na renda.