Título: MRV vende 16,7% das ações a fundo de investimento inglês
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2007, Empresas, p. B1

O fundo de investimentos britânico Autonomy comprou 16,7% de participação na construtora mineira MRV, empresa focada em imóveis residenciais para classe média baixa que já atua em 29 cidades brasileiras. A venda das ações - cujo valor será mantido em sigilo pelas duas partes - permitiu aumento do capital da MRV Engenharia e Participações S. A.

Na nova estrutura, o fundador e controlador Rubens Menin teve sua participação reduzida de 82% para 68,5%. Um grupo de executivos da empresa que tinha antes 18% ficou com 14,8%. O Autonomy terá dois membros no conselho de administração, que teve o número de assentos ampliado de cinco para sete.

"Essa associação nos dá um folêgo grande para a expansão dos negócios", explicou o vice-presidente executivo da MRV, Leonardo Corrêa. A construtora mineira aposta na explosão do mercado imobiliário provocada pelo aumento da oferta de crédito. A avaliação é de que, em cinco anos, este setor vai mais que dobrar de tamanho. "Estamos nos preparando para o crescimento da demanda", afirmou o executivo.

No último ano, a MRV comprou com recursos próprios mais de R$ 150 milhões em lotes nas 29 cidades onde atua, em seis estados além do Distrito Federal. A área total deste banco de terrenos, uma reserva estratégica para os lançamentos futuros, soma 1,6 milhão de metros quadrados.

Segundo Leonardo Corrêa, além da injeção de capital, o Autonomy, gerido pelo Autonomy Capital Research LLP, agrega à construtora seu conhecimento de outros mercados imobiliários. O fundo de investimento tem participação em negócios desse setor em vários países e também no Brasil, mas não revela em quais empresas. A MRV é a primeira empresa em que o grupo tem participação no Brasil

Há pelo menos seis meses, a construtora mineira buscava um parceiro. Mais de 20 fundos foram pré-selecionados pelo banco UBS Pactual, que assessorou a operação. O banco já havia comandado uma reestruturação completa na MRV, separando em negócios independentes atividades que ela mantinha em setores como o financeiro e o agropecuário.

Rubens Menin, que está fora do país, costuma dizer que não tem apego ao controle acionário e não pretende manter a construtora que fundou como uma empresa familiar. Justamente por isso vinha estudando propostas de associação.

O vice-presidente Leonardo Corrêa lembra que, desde sua criação, em 1979, a MRV bancou com recursos próprios a maior parte dos seus planos de expansão. "Mas, neste momento, ter um sócio institucional se mostrou a melhor estratégia para capitalizar o processo de crescimento", afirmou.

Corrêa também lista, no "pacote de benefícios" da associação, a expertise do Autonomy na estruturação de operações financeiras, o que certamente será útil na negociação de custos das linhas de financiamento dos empreendimentos. Quanto mais barato é o financiamento, mais fácil fica vender um imóvel. "O novo sócio possui experiência financeira internacional e já vivenciou expansões de crédito para a construção civil em outros países", destacou o executivo da empresa.

A associação da MRV com o fundo britânico ocorre num momento em que construtoras concorrentes estão estudando mecanismos de mercado, como abertura de capital, para financiar planos de expansão. Questionada sobre o assunto, a construtora informou que não tinha nada a comentar sobre a possibilidade de, futuramente, listar ações em bolsa.

A empresa, que hoje está entre as maiores do segmento no país, começou sua trajetória construindo para a classe média baixa, prédios simples, sem elevador. Nos últimos anos passou a oferecer produtos mais sofisticados para atender também as faixas mais altas da classe média. Hoje, o ticket médio da MRV é de R$ 100 mil. A empresa ainda não divulgou o balanço de 2006.