Título: Fabricantes reavaliam produção de CDMA
Autor: Magalhães, Heloisa e Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2007, Empresas, p. B2

A entrada da Vivo no mercado de celulares com a tecnologia GSM já leva fabricantes de aparelhos a diminuir ou mesmo deixar de produzir terminais no padrão CDMA, adotado há anos pela operadora.

A expectativa é de que a empresa faça compras volumosas de CDMA até o fim do primeiro trimestre. Depois disso, as aquisições nessa tecnologia serão mais voltadas à reposição de celulares dos clientes atuais do que à atração de novos assinantes.

Boa parte dos fornecedores instalados no Brasil exporta os telefones também para outros países latino-americanos, como Colômbia e Venezuela, o que reforça a produção local de celulares CDMA. Mas a migração para o GSM - tecnologia que, por ter mais escala, proporciona aparelhos mais baratos - é generalizada na região. E, como a Vivo é o maior cliente, os fabricantes estão acompanhando de perto cada passo da empresa para planejar as encomendas. Os componentes são importados cerca de quatro meses antes chegarem à linha de produção.

As vendas de telefones CDMA continuam significativas, embora a Vivo esteja gradualmente perdendo participação no mercado. A operadora fechou o ano passado respondendo por 29% do universo de clientes de telefonia celular no país, frente a 34,54% no fim de 2005.

Em dezembro, foram comercializados no país 736 mil telefones CDMA, volume ainda expressivo para uma única operadora. Mas, em contrapartida, as demais oito concorrentes no país impulsionaram no mesmo período vendas de 2,5 milhões de terminais GSM, segundo dados da consultoria Teleco.

A Vivo manterá a rede baseada em CDMA. A companhia não irá jogar fora a tecnologia que lhe proporcionou a posição de liderança no mercado brasileiro, com base instalada superior a 29 milhões de assinantes. No entanto, os celulares nesse padrão ficarão voltados ao mercado corporativo e àqueles clientes mais sofisticados que utilizam serviços de transmissão de dados em alta velocidade, conforme explicou numa entrevista ao Valor, em dezembro, o presidente da operadora, Roberto Lima.

No entanto, com a infra-estrutura de GSM - implantada paralelamente à rede atual - a Vivo poderá atacar o grande mercado de varejo. Foi justamente nesse segmento que suas rivais (especialmente TIM, Claro e Oi) cresceram muito nos últimos anos.

Como o GSM tem mais escala, no mundo todo os aparelhos nessa tecnologia são mais baratos. Sem dispor de armas suficientes para vencer essa briga de preços com o CDMA, a Vivo perdeu mercado.

Procurada pela reportagem, a operadora não quis falar sobre a estratégia para o GSM. Com isso, a empresa tem dois objetivos: evitar abrir demais seus planos para a concorrência neste momento e entrar com cautela num segmento novo para não causar confusão entre os assinantes.

O Valor apurou que a idéia é lançar comercialmente o serviço após a ressaca de Carnaval, com foco no Dia das Mães. Mas, sem fazer alarde, lojas próprias da Vivo já oferecem a opção pelo GSM em modelos pré-pagos.

No call center da operadora, a informação é de que o GSM está disponível nas lojas próprias da empresa na Grande São Paulo. Na unidade de um shopping center paulistano, o Valor encontrou três modelos - dois da Nokia e um da Sony Ericsson. Todos estavam expostos na vitrine, com preços de R$ 149 a R$ 249. Incluíam R$ 50 em créditos mais R$ 50 em bônus para ligações de Vivo para Vivo. São aparelhos sem recursos sofisticados. Em alguns locais, a companhia está testando também um celular da americana Motorola.

No entanto, os principais fornecedores já se preparam para atender a operadora. Antes de qualquer outro fabricante, a finlandesa Nokia revelou em junho do ano passado a decisão de gradualmente parar de produzir terminais CDMA. A empresa não se acertou com a americana Qualcomm, detentora de boa parte das patentes da tecnologia.

Outra companhias já avaliam seguir o mesmo caminho no mercado brasileiro, onde a Vivo é a única adepta do CDMA.

Uma delas é a LG fechou o ano passado como a maior fornecedora da Vivo, afirma o diretor da área comercial de celulares da empresa coreana, Carlos Mello. Em 2006, o fabricante vendeu 6,2 milhões de telefones móveis, sendo 2,7 milhões em CDMA e 2,5 milhões em GSM.

De acordo com Mello, "em qualquer momento [a LG] vai deixar de fabricar CDMA". Neste ano, a empresa já está ampliando a produção de terminais GSM. "Hoje, a Vivo tem uma grande base de CDMA, mas se ela reduzir a escala na qual vem comprando esses aparelhos, imediatamente temos condições de substituir a produção por GSM", diz.

Em 2006, a Motorola destinou 25% da produção de celulares para os modelos CDMA e o restante para o GSM. A empresa americana atendeu não apenas a Vivo, mas também operadoras de países vizinhos, entre como a Venezuela, onde também é utilizado o CDMA. De acordo com o presidente da companhia, Enrique Ussher, a produção em cada um dos padrões tecnológicos vai depender do comportamento dos mercados e, em particular, da Vivo. "Não temos posição ainda. Vamos nos alinhar ao que for necessário à operadora. Mas a tendência é de continuar fazendo os dois produtos", diz.

Ussher estima crescimento total da ordem de 10% nas vendas de celulares no Brasil neste ano. Na avaliação do executivo, a tecnologia em que é baseado o serviço pouco influencia o usuário. "O mais importante é o nível do serviço. É o que mais conta para o cliente", observa.

A Motorola é o nono maior exportador do país. Há vários anos, tem feito sucessivos investimentos para ampliar a capacidade instalada e melhorar a produtividade. Em 2005, exportou o equivalente a US$ 962 milhões e, até novembro de 2006, o volume havia atingido US$ 1,3 bilhão. Segundo Ussher, o mercado mundial continuou muito aquecido no ano passado.

Conforme pesquisa divulgada ontem pela Strategy Analytics, as vendas mundiais de celulares alcançaram o recorde de 1 bilhão em 2006, o que representa alta de 25% frente ao ano anterior.

O diretor da área de telecomunicações da Samsung, Oswaldo Mello Neto, diz que a empresa vai reduzir a produção de terminais CDMA e dar mais ênfase aos GSM. A coreana entrou em 2007 com os termais CDMA na linha de produção, mas deverá fazer um acompanhamento junto à Vivo para checar de que forma a operadora irá se comportar.

"A redução dos CDMA vai depender da estratégia da Vivo e da reação do mercado à colocação do GSM. A Vivo fez uma introdução quase piloto de GSM em algumas praças e lojas. Até agora, nem a própria operadora pode dizer se o resultado comercial superou as expectativas", avalia o executivo da Samsung.

Porém, a expectativa de Mello Neto é de que o cliente da Vivo acabe migrando para o GSM. "O CDMA é um terminal de maior custo. É natural que a própria operadora tenha interesse em levar o assinante para a rede GSM. Uma demanda dos clientes da Vivo é o roaming internacional, que fica resolvido com a mudança tecnológica."

A brasileira Evadin, que fabrica celulares com a marca Aiko e no ano passado firmou acordo com a ZTE, da China, para montar terminais CDMA, está desativando sua linha de produção nessa tecnologia. Agora, prepara-se para readequar a planta para o GSM. Até o fechamento desta edição, o Valor não havia conseguido um contato com executivos da Evadin para comentar o assunto.

A também nacional Gradiente, por sua vez, enxerga nas mudanças da Vivo uma oportunidade de conquistar um novo cliente e crescer no mercado de celulares. Como a empresa só produz terminais GSM, até agora não conseguia fornecer para a maior operadora do país. "Já estamos adaptando nossos modelos para a faixa de freqüência da Vivo e negociando contrato com a operadora", destaca o diretor-geral da Gradiente Telecom, Fernando Fischer. Segundo ele, a companhia fechou o ano passado com participação de 8% no mercado de aparelhos GSM.