Título: SAP vai investir US$ 3 milhões para criar software na AL
Autor: Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2007, Empresas, p. B3

A SAP, maior empresa de software de gestão empresarial do mundo, vai montar uma fábrica de software "multinacional" na América Latina. A unidade será descentralizada. O objetivo é empregar profissionais em vários países, incluindo o Brasil, que sejam capazes de escrever programas adaptados às necessidades da região em geral, mas com um olho nas particularidades do país em que ficarão concentrados. O investimento no projeto é de US$ 3 milhões e as contratações já começaram. "O tamanho da equipe será flutuante e vai depender do número de contratos, mas serão mais de 50 e menos de 100 pessoas", diz o executivo português José Duarte, presidente da SAP para América Latina.

A fábrica - na verdade, um centro de criação de códigos - vai trabalhar em programas para pequenas e médias empresas. É para este segmento que a SAP tem se encaminhado nos últimos meses, em busca de áreas de crescimento mais rápido que o mercado, já maduro, das grandes companhias.

Em 2006, foram empresas de porte menor que deram o principal impulso à base de clientes da SAP na América Latina. "Começamos o ano com 2,3 mil clientes e terminamos com 3 mil, um acréscimo de 30%", diz Duarte. "Desses novos clientes, 650 são pequenas e médias empresas."

Ao todo, a receita de software da SAP na região aumentou 38% no ano passado, mais de três vezes o desempenho mundial, de 12%. "Foi o melhor ano da história da empresa na região", afirma Duarte. O Brasil apresentou um resultado ainda mais expressivo: as vendas aumentaram 64%, informa o executivo. Vários pontos concorreram para o crescimento na região. "Em geral, as economias latino-americanas apresentaram um crescimento como não se via há anos e muitas empresas expandiram suas atividades para fora da região, o que gerou uma procura por sistemas de informação", explica Duarte.

As pequenas e médias empresas responderam com mais encomendas e tornaram-se o destaque no desempenho regional da SAP. Não é de hoje que a companhia de origem alemã procura expandir-se para os clientes de porte menor. O poder de compra dessas empresas é mais modesto, mas elas são muito mais numerosas que as grandes companhias. Em âmbito global, a meta da SAP é fazer com que o segmento de pequenas e médias, que hoje responde por 30% dos pedidos, aumente para 45% até 2010.

A SAP já havia lançado um produto específico para o segmento, o Business One, mas há dois dias detalhou sua nova aposta nesse mercado. É o A1S, que será vendido no modelo sob demanda.

Os clientes poderão adquirir o produto de três maneiras diferentes. No primeiro e mais tradicional, ele compra o software e o instala em sua própria rede. As novidades são as demais modalidades. Numa delas, a SAP vai "hospedar" as aplicações do cliente em seus próprios computadores. Na outra, o cliente fica com o software instalado em casa, mas passará a contar com um equipamento pelo qual a SAP fará eventuais correções e atualizações, tudo à distância.

A nova abordagem será colocada em prática nos Estados Unidos até o fim do ano e só deverá chegar à América Latina em 2008. Nesta semana, porém, o anúncio provocou fortes reações no mercado acionário. Na quarta-feira, a SAP anunciou que vai gastar cerca de 400 milhões de euros(US$ 520 milhões) nos próximos dois anos para colocar o AS1 em prática e alertou que isso poderá reduzir em 1,3 ponto percentual suas margens de lucro neste ano. O mercado reagiu mal à notícia e ações da companhia fecharam a 36 euros, com baixa de 6,37%.

A SAP encerrou o ano de 2006 com receita de 9,4 bilhões de euros e lucro líquido de 1,8 bilhão de euros, o que representa, respectivamente, um aumento de 10% e de 25% em relação ao ano anterior. A empresa está no centro de uma disputa acirrada pelo mercado de software empresarial (ERP, na sigla em inglês). Sua principal oponente no segmento de grandes clientes é a americana Oracle, que também está fazendo um esforço para atingir as pequenas e médias. Nesse filão, ambas enfrentam a Microsoft.

No Brasil, a concorrência é ainda mais dura por causa da existência de companhias locais - a Totvs e a Datasul -, que já tem forte presença no segmento de pequenas e médias. "No continente, essa é uma situação que só conheço nos EUA", diz Duarte. A presença de competidores locais fortes, porém, não é um desestímulo, afirma o executivo. "Ao contrário, isso só mostra que existe mercado e faz sentido investir. Estamos acostumamos a jogar com rivais fortes."