Título: Pacote gera clima de frustração em Davos
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2007, Brasil, p. A3

Ao desembarcar hoje em Davos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se confrontar com executivos conhecedores do Brasil frustrados sobre seu Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para impulsionar a expansão. Em contraste, ele verá um otimismo generalizado sobre a economia mundial e sobre a capacidade de novos emergentes, afora China e Índia, ocuparem mais terreno nos negócios internacionais.

Alain Belda, presidente da Alcoa, que vai mediar uma das "conversas" do presidente no plenário, acha que a vinda de Lula ajudará a "polir a imagem" por causa dos escândalos de corrupção no PT, não do próprio Lula, que "abalaram" investidores.

Mas sobre o PAC, ele não esconde a decepção. "Está na direção certa, mas é insuficiente. O problema é quanto tempo o Brasil vai andar de passinho em passinho numa economia mundial que está num momento muito bom e no qual não se aproveita para crescer mais".

Entre executivos que exclamavam "isso não é reforma" e outros mais ponderados, ainda achando que Lula terá outra "chance" para deflagrar o potencial do país, a crítica mais incisiva veio do de Charles Dallara, diretor-gerente do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), que representa 360 grandes bancos de 60 países. Para ele, é "uma "infelicidade" que o governo Lula "não tenha feito tudo o que podia", evitando reformas fiscal, da Previdência e liberalização comercial. "São questões chave para o Brasil crescer 6% ou 7% em vez de 3% ou 4%."

Para Dallara, "é uma vergonha" que o Brasil comece a perder investimentos estrangeiros "porque não faz tudo o que poderia" para acelerar o crescimento de sua economia. Ao seu ver, "é óbvio" que com o tempo o país vai perder alguns atrativos para investidores estrangeiros e o fluxo de capital tenderá a diminuir no médio prazo. "A concorrência está aumentando para o país e vem agora também de Vietnã e outros países."

Até o sueco Jacob Wallemberg, presidente da holding Investor AB, abordou o assunto. Depois de mencionar as companhias em que investe e estão no Brasil, como Ericsson, Scania, ABB, Electrolux etc, ele afirmou que esperava que o país crescesse mais.

O presidente do Banco Central do México, Guillermo Ortiz, enfrenta o impacto da desaceleração da economia dos EUA, que já derrubou o crescimento mexicano de 4,7% em 2006 para algo como 3,5% este ano. Quase desolado, exclamou: "Crescer 3% em lugar de 5% faz diferença para um país em matéria social, de possibilidades reais para trazer novas tecnologias etc."

Mas Ortiz tratou de mostrar que, se o Brasil e o México compartilham o mesmo desafio de flexibilizar suas economias para crescer mais, os problemas são distintos, para indicar que o Brasil gasta mais. "No Brasil, tanto o gasto do Estado como entrada de impostos é equivalente a 38% do PIB. No México, é ao redor de 22% e nós precisamos é captar mais (impostos) para aumentar os gastos em educação e outros."

Quando o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, chegou ao fórum, por volta das 16 horas, reconheceu que de fato não dá para crescer 5% este ano, até porque "o Brasil não é como uma McLaren que acelera em três segundos". O ministro disse que a estratégia é de acelerar o ritmo do crescimento no fim do ano, quando a taxa poderia estar em 4,5%, e acelerar em direção a 5% em 2008.

No grande debate sobre a economia global, o otimismo foi generalizado, em especial sobre emergentes. Laura Tyson, ex-assessora econômica do presidente americano Bill Clinton, notou que os emergentes pela primeira vez fizeram 50% da economia mundial. Min Zhu, vice-presidente do Banco da China, disse, sem perder a modéstia, que a China vai continuar tendo "um grande ano", com expansão por volta de 10% de novo. Para Jacob A. Frankel, vice-presidente da American International Group (AIG), a China e a Índia vão "pilotar" o debate sobre benefícios da globalização.

Após mais de uma hora de debate, um jornalista brasileiro levantou-se e notou que até aquele momento ninguém tinha mencionado Brasil ou América Latina. Um professor, Nouriel Roubini, repetiu a ladainha da falta de reformas. Frankel disse que espera que Lula explique o PAC.

Mais tarde, em debate sobre a América Latina, o mediador, um professor mexicano, observou que é um populista, Hugo Chávez, da Venezuela, quem é visto como líder da região. Um participante chegou a indagar se a América Latina era relevante para o mundo. A resposta, paradoxalmente, veio do presidente mundial da Pepsi Cola, Michael White: "Claro que sim, é onde tenho 40% do faturamento."