Título: Freio monetário agrada mercado
Autor: Ribeiro, Alex e Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2007, Finanças, p. C1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem desacelerar o ritmo de redução dos juros básicos da economia, cortando a taxa Selic em apenas 0,25 ponto percentual, para 13% ao ano. Nas cinco reuniões anteriores, a taxa havia caido 0,5 ponto. A exemplo do que ocorreu na reunião anterior, de novembro de 2006, não houve unanimidade entre os diretores do BC. Cinco deles votaram por um corte de 0,25 ponto, enquanto três advogaram uma redução de 0,5 ponto percentual.

A breve nota divulgada após a reunião dá claras indicações de que o ciclo de corte de juros não chegou ao fim. "Diante das incertezas associadas ao mecanismo de transmissão da política monetária, e considerando que os efeitos das reduções desde setembro de 2005 ainda não se refletiram integralmente na economia, o Copom avalia que a decisão contribuirá para aumentar a magnitude de ajuste a ser implementado", diz a nota.

Embora a estratégia mais conservadora tenha sido adotada dois dias depois de o governo anunciar o Pacote de Aceleração do Crescimento (PAC), que aposta na expansão do investimento público, não é possível afirmar que a decisão foi tomada pelo Copom exclusivamente devido os efeitos expansionistas da política fiscal.

Desde julho de 2006 o BC vem alertando que, devido aos riscos que envolvem as decisões de política monetária, em algum momento poderia se tornar necessário imprimir maior parcimônia nos cortes de juros. Em novembro, quando o PAC era ainda embrionário, o Copom já havia se dividido, com cinco diretores votando por um corte de 0,5 ponto percentual e três advogando apenas 0,25 ponto.

O receio do BC, expresso em suas atas, é que os cortes de juros decididos até agora podem ter um efeito maior do que o esperado na atividade econômica e na inflação. Desde setembro de 2005, quando começou o atual ciclo de cortes na taxa Selic, a taxa básica caiu 6,5 pontos.

O BC só não cortou os juros antes porque, até agora, os indicadores de inflação têm se saído melhores do que o esperado. As projeções oficiais do relatório de inflação do Copom indicam que, se os juros básicos fossem mantidos em 13,25% ao ano, a inflação em 2007 fica em 3,9%, abaixo da meta, fixada em 4,5%. As projeções do BC mostram que, mesmo que ocorra a queda na Selic projetada pelo mercado, com uma média de 11,92% no ultimo trimestre deste ano, a inflação fica em 4,3%.

A decisão do Copom de reforçar o aperto monetário ao diminuir a velocidade de queda da taxa Selic - do 0,50 ponto percentual de corte implantado na reunião de maio do ano passado para 0,25 ponto agora - foi bem recebida pela maioria dos analistas do mercado financeiro. "O Copom foi bastante ousado em reduzir o ritmo da queda logo em seguida ao anúncio do PAC. A decisão é um sinal positivo ao mercado, de que permanece intacta a independência do BC", observa o economista-chefe da Grau Gestão de Ativos, Pedro Paulo B. da Silveira. Na sua opinião, os mercados terão que fazer alguns ajustes na sexta-feira, depois que voltarem do feriado paulistano de hoje. Ele prevê algum contágio no mercado de ações e alta nas taxas dos contratos mais longos negociados no pregão de juros futuros da BM&F. Mas logo os mercados se ajustarão, e a tendência é de os juros futuros voltarem a cair.

O consultor Miguel Daoud, da Global Financial Advisor, não acredita que a decisão do BC de desacelerar o corte do juro básico num momento em que o governo se empenha um incremento o crescimento venha a ter conseqüências políticas. "O Copom decidiu de forma autônoma e no mesmo sentido de suas sinalizações. Preocupa ao mercado o impulso fiscal que a inflação está recebendo e a piora nas expectativas inflacionárias", diz Daoud.

Os setores industrial e comercial lamentaram a decisão. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) informou em nota que a redução "está na contramão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)". A nota, assinada por Paulo Skaf, ressalta que "nem parece que o Copom integra o mesmo governo que, há apenas dois dias, anunciou um grande e abrangente programa voltado à expansão do PIB. É paradoxal".

O presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, também afirmou que a decisão foi "contraditória" e lamentou que o BC "retire o pouco otimismo do mercado, uma vez que, há tão pouco tempo, o governo anunciou um plano para acelerar o crescimento."

A Fecomercio do Rio afirma que "a rigidez na condução na política monetária e o esforço fiscal de nada adiantam enquanto não houver melhoria na eficiência dos gastos públicos" e conclui que "fica muito difícil acreditar que o país crescerá 4,5% ainda este ano."

Na avaliação do presidente da Fecomercio-SP, Abram Szajman, o corte "é insuficiente para alavancar a atividade comercial e a economia". "A taxa parece superdimensionada quanto ao cumprimento da meta inflacionária para este ano."

Minutos após o anúncio da decisão do Copom, o Banco do Brasil anunciou redução das suas taxas de juros para cheques especiais, cartões de crédito e linhas de crédito direto ao consumidor (CDC) e para pequenas empresas. No cheque especial, a taxa mínima caiu para 1,98%.