Título: Bancos esperam impulso "modesto" do PIB com programa de crescimento
Autor: Camarotto, Murillo
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2007, Finanças, p. C2

Os grandes bancos brasileiros não demonstraram grande empolgação com o Programa para Aceleração do Crescimento (PAC), lançado pelo governo na última segunda-feira.

Em reunião promovida ontem pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em São Paulo, economistas das maiores instituições do país concordaram que as medidas divulgadas devem resultar em um impulso "modesto" ou "marginal" ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

Assim como ocorreu entre o empresariado, a ausência de regras para reduzir ou até mesmo frear os gastos públicos foi a principal queixa dos economistas presentes ao encontro. Auto-declarado o "menos fã" do programa, o economista-chefe para a América Latina do Banco Real e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Alexandre Schwartsman, afirmou que sem cortes no gastos do governo não há como se estabelecer um "crescimento definitivo" para a economia brasileira.

Ele criticou também o fato de o PAC ter como filosofia a permanência do Estado "no centro do palco", ao se referir ao poder público como financiador e administrador ineficiente do crescimento nacional. Schwartsman questionou a capacidade de o governo gerir os investimentos em infra-estrutura melhor do que o setor privado.

A falta de prioridade à reforma tributária também foi atacada por Schwartsman e por seus colegas. Para ele, além do corte nos gastos públicos, o pacote também deveria prever uma redução dos impostos. "Menos advogados tributaristas e mais engenheiros. É isso que esperávamos do PAC", provocou.

Para o economista-chefe do Itaú, Tomás Málaga, a desoneração de alguns setores da economia, presente no PAC, poderia ser substituída por uma mudança na legislação tributária vigente no país. "A desoneração setorial foi importante. Mas há dúvidas se esses setores são mais importantes do que outros", questionou. O executivo afirmou ainda que esperava desonerações da ordem de R$ 12 bilhões, praticamente o dobro dos R$ 6,6 bilhões apresentados no PAC.

Apesar das críticas, os economistas também concordaram que o setor privado tem grande interesse em investir na infra-estrutura brasileira e que a criação de um programa de incentivos é muito positiva.

O diretor de pesquisa macroeconômica do Bradesco, Octávio de Barros, afirmou que há investidores "salivando" por oportunidades de investir em empreendimentos de infra-estrutura. Segundo ele, trata-se de uma das melhores aplicações existentes no mercado para países emergentes, porém a falta de um ambiente com regras mais claras para os negócios ainda inibe os aplicadores.

Schwartsman completou que fundos de pensão importantes, cujas aplicações costumam ser conservadoras, já demonstram grande interesse pela infra-estrutura brasileira. "É impressionante o apetite que eles (fundos) têm por esses projetos", afirmou.