Título: Aquisição muda jogo de xadrez do setor
Autor: Carvalho, Maria Christina e Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2007, Finanças, p. C8

A aquisição do BMC pelo Bradesco muda o jogo de xadrez do setor bancário. Até agora, investidores estrangeiros eram os maiores interessados nos bancos de médio e pequeno porte. Grandes instituições nacionais, ou por sobreposição de operações ou por temor de conflito com áreas internas, não tinham muito interesse nos bancos que se especializaram no crédito consignado. Agora, o jogo mudou. "Foi um movimento defensivo inteligente do Bradesco", diz executivo do setor.

O negócio tem três consequências. Primeiro, coloca pressão sobre o principal concorrente do Bradesco, o Itaú. No passado, quando o Bradesco comprou o Banco Zogbi, especializado em financiamento em lojas, o Itaú partiu com tudo para adquirir os ativos do Lloyds no Brasil, que incluía a financeira Losango. Perdeu a disputa para o HSBC e optou por montar uma financeira do zero, a Taií. No consignado, o Itaú tem investido pouco. Dos grandes privados, os mais ativos na modalidade são o HSBC e o Santander.

A segunda consequência é sobre os preços dos demais bancos de menor porte. Um dos problemas dessas instituições é que seu custo de captação é mais alto que o das grandes e os "spreads" vem caindo. "Agora, o BMC terá na prática um funding de 100% do CDI, enquanto Fundos de Investimento em Direitos Creditórios recentes, como o do BMG, custam 115% do CDI", explica um executivo do setor. Na prática, isso significa que a margem do BMC será maior, o que lhe dará a chance de oferecer uma taxa de juro final menor para aumentar sua fatia de mercado.

"Em um primeiro momento, os bancos de menor porte podem até ter valorização porque passam a ser alvos potenciais, mas, com o tempo, a tendência é de que percam valor por causa da concorrência com o BMC/Bradesco", explica o executivo. Essa lógica pode ter impacto nos processos de abertura de capital em curso, entre eles do Cruzeiro do Sul e do Panamericano.

"Não é fácil abrir o capital e vender ações de um banco menor por causa da dificuldade de mostrar potencial de crescimento e de captação de recursos", diz um banqueiro de investimentos. Para ele, muitas dessas instituições, falam em abertura de capital para tentar obter recursos de investidores estratégicos. Um concorrente discorda. "Bancos pequenos e médios atuam em nichos, como o de crédito ao consumidor, principalmente o consignado com desconto em folha. Os retornos são polpudos e o risco, pulverizado", diz. Um cálculo indica que se o BMC produzir no próximo ano uma carteira de crédito do tamanho da do BMG no ano passado, o lucro poderá chegar a R$ 250 milhões.

A aquisição feita pelo Bradesco tem ainda uma terceira consequência, sobre os custos operacionais. Hoje, para fazer chegar os recursos do consignado a clientes não-bancarizados, o banco tem de pagar uma Ordem de Pagamento (OP) a uma instituição de varejo, como o Bradesco. No BMC, esse custo será zero. Grandes bancos tem evitado fazer acordos com instituições menores para realizar OP e, quando o fazem, cobram caro.

(RB, com colaboração de CPL)