Título: Crescimento de 5% ainda gera dúvida em heterodoxos
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2007, Brasil, p. A8

O aumento da parcela do Produto Interno Bruto (PIB) destinada ao investimento público e as renúncias fiscais anunciadas por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foram elogiados por economistas heterodoxos. No entanto, são cautelosos quanto ao crescimento na casa dos 5%. Para eles, o programa sozinho não é capaz de destravar a economia e alertam que é preciso que a taxa básica de juros, a Selic, siga em trajetória de queda. Caso contrário, será difícil crescer a taxas robustas.

"Esse plano não é genérico, tem detalhamento e metas físicas e financeiras. O governo está dando a cara para bater e a sociedade poderá cobrar os compromissos assumidos no PAC", afirma Amir Khair, especialista em contas públicas. Para ele, que, assim como o governo, conta com a queda da Selic nos próximos anos, a folga orçamentária criada pelo menor gasto com juros sustentará parte das desonerações.

Khair acredita que a atual situação dos indicadores macroeconômicos do país também será essencial para se atingir taxas de crescimento maiores. Para o economista, com inflação controlada, juros em queda, uma situação favorável no cenário internacional e mais esse pacote, será possível a economia deslanchar.

Sobre a necessidade de, além de reduzir juros e desonerar alguns setores, também reduzir se os gastos correntes, os economistas ouvidos pelo Valor acreditam que o governo fará sua parte ao não permitir que o crescimento deles ultrapasse a variação do Produto Interno Bruto (PIB).

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo diz que é preciso controlar os gastos correntes, mas que isso é muito mais difícil e perigoso de se fazer do que se imagina. "Todos acham que é fácil cortar esses gastos. Mas em alguns setores você pode fazer isso e depois ter um colapso. O que se pode fazer é controlar na margem o quanto eles vão crescer", diz. Para ele, o que mais pressiona a relação dívida/PIB no país são os juros e não esses gastos. Khair aposta da redução dos juros para baixar essa relação. "Além disso, com a economia crescendo mais, o percentual da dívida sobre o PIB também cederá mais rapidamente", explica.

Outro ponto aplaudido pelos economistas foi a decisão de destinar 0,5 ponto percentual do PIB para investimentos públicos. "O governo não está tomando o lugar do setor privado, pelo contrário", afirma o professor da Unicamp, Ricardo Carneiro. Ele diz que, em primeiro lugar é preciso lembrar que o o nível de investimento público atual é muito baixo, perto dos 2%. "O que existe é uma tentativa parcial de colocar o setor público como indutor do crescimento", explica. Mas, para ele, as empresas privadas terão seu papel por meio de parcerias e , com as renúncias fiscais anunciadas ontem, serão estimuladas a investir

Enquanto os economistas ortodoxos avaliam que falta rigor fiscal, Carneiro diz que o governo poderia ter sido mais radical e destinado um percentual maior do PIB para os investimentos. Ele explica que o superávit é um indicador par medir a posição cíclica da economia. O indicador de consistência intertemporal é a dívida do setor público. E se o governo reduz o primário para investir e crescer mais, a relação dívida PIB irá ceder.