Título: Bush quer reduzir em 20% o consumo de gasolina nos EUA
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2007, Internacional, p. A11

O presidente americano George Bush resolveu criar novos estímulos para o uso de combustíveis renováveis nos EUA, numa tentativa de reduzir sua dependência de petróleo importado e ao mesmo tempo dar um novo empurrão na indústria de etanol, que vem crescendo aceleradamente no país.

Bush planejava dar destaque para o assunto ontem em seu discurso anual sobre o estado da União, no Congresso americano. O pronunciamento estava previsto para começar à meia-noite, pelo horário brasileiro. Trechos do discurso e detalhes das principais propostas foram antecipados à tarde pela Casa Banca.

O governo espera reduzir em 20% o consumo de gasolina nos EUA nos próximos dez anos, incentivando a produção de combustíveis alternativos como o etanol e o biodiesel, e forçando a indústria automobilística a produzir carros mais econômicos.

Bush vai propor ao Congresso a fixação de uma nova meta para o uso de combustíveis renováveis no país, com o objetivo de atingir um consumo anual de 35 bilhões de galões em 2017. É quase cinco vezes a meta da legislação em vigor, 7,5 bilhões de galões até 2012, fixada há pouco mais de um ano no Congresso.

O governo americano espera alcançar a nova meta principalmente com um aumento na produção doméstica de etanol, o álcool combustível que é feito de cana no Brasil e de milho nos EUA. A indústria americana se expandiu rapidamente nos últimos meses, impulsionada por subsídios generosos e pela alta dos preços do petróleo.

Bush também defendeu mudanças nos padrões de eficiência energética que a indústria automobilística precisa seguir, para forçar as montadoras a lançar carros que consumam menos gasolina. Tentativas anteriores de tornar mais exigentes esses padrões foram barradas pela indústria e vetadas no Congresso.

Bush quer mais investimentos em pesquisas para o desenvolvimento de outras fontes alternativas de energia, como o etanol celulósico, que pode ser feito de grama, palha e outros resíduos agrícolas. Ele vai propor ao Congresso que destine US$ 1,6 bilhão para pesquisas nessa área e US$ 2 bilhões em empréstimos subsidiados para a construção de plantas de etanol celulósico.

"Ampliar esperanças e oportunidades depende de um suprimento estável de energia que mantenha a economia americana crescendo e o meio-ambiente limpo", disse Bush, de acordo com os trechos do discurso antecipados pela Casa Branca. "É do nosso interesse vital diversificar o suprimento de energia da América, e o caminho nessa direção é através da tecnologia."

Bush espera que a maior parte da nova meta seja cumprida por produtores domésticos. Mas uma nota divulgada pela Casa Branca faz uma menção positiva ao papel que a importação de combustíveis alternativos pode ter para reduzir a dependência americana de óleo extraído de regiões politicamente instáveis como o Oriente Médio.

"Importar combustíveis alternativos também aumenta a diversidade das fontes de combustível, o que aumenta ainda mais nossa segurança energética", diz a nota. Para proteger os interesses da indústria doméstica, os EUA impõem uma tarifa de US$ 0,54 o galão que encarece a importação de etanol do Brasil. Bush se manifestou contra a taxa no passado, mas nunca fez nada para removê-la.

Ano passado, os americanos se tornaram os maiores produtores de etanol do mundo, ultrapassando o Brasil. Existem 110 usinas em operação nos EUA. Juntas, elas têm capacidade para produzir 5,4 bilhões de galões de etanol por ano. Há outras 73 usinas em construção. Quando todas ficarem prontas, em três anos, a capacidade de produção de etanol nos EUA deve passar de 11 bilhões de galões.

As iniciativas na área de energia fazem parte de um esforço de Bush para recuperar sua capacidade de influir na agenda nacional num momento difícil. A menos de dois anos do fim de seu mandato, sua popularidade está no chão e a oposição à guerra no Iraque é crescente. Os candidatos à sua sucessão já estão fazendo campanha nas ruas e a maioria no Congresso passou a ser controlada pelo Partido Democrata, que faz oposição a ele.

Bush também lançou ontem propostas para várias outras áreas, incluindo um pacote de benefícios tributários para ajudar trabalhadores que não têm plano de saúde. A idéia começou a ser atacada pelos democratas assim que surgiram os primeiros detalhes. Bush também renovou o apelo que fez há um ano por mudanças no tratamento dos imigrantes que vivem e trabalham sem documentos.

O presidente voltou a defender sua decisão de reforçar a presença americana no Iraque, enviando mais 21 mil soldados apesar da oposição que a decisão encontrou até em seu partido. "Escolhi esta direção porque ela oferece a melhor chance de êxito", disse Bush. "Muitos nesta casa compreendem que a América não pode falhar no Iraque, pois entendem que as consequências de um fracasso seriam dolorosas e de longo alcance."