Título: As vedetes do PAC
Autor: Cotias, Adriana e Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2007, EU & Investimentos, p. D1

Um dias após o governo anunciar o Pacote de Aceleração do Crescimento (PAC), os analistas fazem as contas para pinçar quais ações nos diversos setores contemplados pelo programa podem capitalizar investimentos potencialmente mais vultosos. Há dúvidas de como o governo fará para atrair o capital privado, qual o escopo regulatório das iniciativas, mas a sinalização de que a infra-estrutura é prioridade já permeia algumas apostas para o longo prazo. Energia, saneamento, construção civil, tecnologia da informação, transporte e logística são os segmentos de negócios que estão no radar dos especialistas.

À primeira vista, o que se percebe é que o PAC terá impacto muito mais no bolso das empresas do que das pessoas físicas. Mas o investidor pode pegar carona no programa por meio de ações de companhias que, de alguma forma, podem ser beneficiadas com as medidas. É um jogo arriscado, mas que pode render bons frutos para o investidor lá na frente.

Grosso modo, muito do que foi divulgado já era conhecido ou estava na programação, caso dos investimentos da Petrobras. De qualquer forma, a meta da estatal para 2007 foi elevada em 15,9% para R$ 55 bilhões, com a inclusão de novos projetos. A intenção de tornar o país auto-suficiente na produção de gás natural, com a antecipação de R$ 3,3 bilhões para aumentar a oferta no mercado interno, é ponto a favor da Comgás, destaca o analista Marcos Paulo Fernandes Pereira, da Fator Corretora. Ele mantém ainda indicação de compra para as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras, com um preço alvo estimado em R$ 67,45, um potencial de valorização de 44% sobre a cotação atual.

Correlatas aos setores de petróleo e gás, as ações da Confab e da Lupatechtêm seu apelo, aponta o gerente de análise da Modal Asset Management, Eduardo Roche. A fabricante de tubos de aço seria o veículo para construir a malha necessária para o fornecimento de gás natural, enquanto a Lupatech, tradicional fornecedora da Petrobras de válvulas industriais, é favorecida pelos investimentos da estatal sem absorver os impactos dos vaivéns das cotações internacionais do petróleo. O mercado já começou a colocar nos preços dessas ações esse cenário. No ano, Confab PN acumula alta de 16,50%, enquanto Lupatech avança 21,88%, em comparação à queda de 0,67% do Ibovespa até ontem.

No setor de energia, a ampliação dos prazos e carências dos financiamento do BNDES na área de geração e transmissão e a redução dos spreads podem elevar a taxa de retorno dos investimentos, destaca o chefe de análise da Link Corretora, Adriano Blanaru. E, com menor correlação das elétricas com a economia externa, ele vê boas opções de investimentos em papéis como Cesp PNB, Celesc PNB e CPFL Energia ON. No segmento de software, mesmo fora do pacote, ele cita Totvs, que deve contar com uma regulamentação própria, como espera o presidente da empresa, Laércio Cosentino. No mais, Blanaru menciona os incentivos à TV Digital. Para ele, o PAC deve acelerar o processo de universalização do acesso à internet. "IdeiasNet, UOL, Net, Positivo e concessionárias de telefonia fixa deverão ser diretamente ou indiretamente beneficiadas."

Com a ampliação dos subsídios, o PAC deverá ter efeito sobre o segmento de computadores, segundo Marcelo Villela de Araújo, chefe de gestão da Quest Investimentos. "O incentivo já era forte e aumentou agora, o que deve beneficiar especialmente a Positivo Informática", afirma. Ele também vislumbra estímulos indiretos para empresas fornecedoras dos setores beneficiados, casos da Gerdau e da Duratex , ligadas à construção civil.

A área de concessões, apesar do diz-que-diz-que plantado pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef nas licitações de novos trechos rodoviários, ainda terá seus dias de glória, opina o chefe de análise da Coinvalores, Marco Aurélio Barbosa. "É um setor ainda muito carente de investimentos, o governo não tem como tocá-lo sozinho e as margens são boas", resume. Para CCR ON, o seu preço alvo está projetado em R$ 36,00 para dezembro, ante os R$ 27,59 do fechamento de ontem. Nas suas sugestões estão as units da América Latina Logística (ALL), com valor estimado em R$ 26, com potencial de alta de 10,9% sobre a cotação atual.

No mapa de recomendações da corretora ainda estão Copasa ON, a R$ 29; Confab PN, a R$ 6,20; Gerdau PN e Usiminas PNA, a R$ 43 e R$ 105, respectivamente, favorecidas pelo impulso dado à construção civil. O setor de energia traz CPFL Energia ON (R$ 40), Eletrobrás PNB (R$ 51) e Tractebel ON (R$ 21).

As empresas de concessões CCR, OHL e ALL também têm recebido atenção do gestor de Renda Variável da Infinity Asset Management, George Sanders. "Independente do PAC, em algum momento essas empresas vão ter de ser incluídas no programa de concessões, pois o governo não tem como investir na melhora de rodovias e ferrovias."

(Colaborou Angelo Pavini)