Título: Schincariol perde venda no Sudeste e parte para ampliação do portfólio
Autor: D'Ambrosio, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2007, Empresas, p. B1

Depois de um longo silêncio, a Schincariol começa a reaparecer. Aos poucos, a cervejaria de Itu (SP) sinaliza os primeiros resultados de um complexo processo de reestruturação, iniciado há dois anos pela McKinsey. Com uma queda de participação importante nos principais mercados de cerveja - sobretudo São Paulo e Rio - a empresa tenta arrumar a casa. Apesar de pequena, a compra da Baden Baden na semana passada já é um passo nessa direção.

No ano passado, segundo dados da AC Nielsen, a Schincariol foi a empresa com maior queda de participação de mercado: saiu de 12,2% em dezembro de 2005 para 11% no último mês de 2006. A líder AmBev manteve-se em 69,3%, a Femsa passou de 8,5% para 8,6% e a Petrópolis, de um ex-distribuidor Schincariol que lançou as marcas Itaipava e Crystal, subiu 1,4% e fechou o ano com 6,7%.

A Schincariol tem posições muito distintas no mercado brasileiro. Nas praças mais importantes, a marca patina. Na capital paulista tem 6,5%, mesma fatia de um ano atrás, no Rio caiu de 4,5% para 2,4% e em Minas Gerais sua fatia recuou de 6,7% para 5,5%. "Estamos em grandes dificuldades no Sudeste", reconhece José Domingos Francischinelli, diretor de relações institucionais da Schincariol.

No Nordeste, a marca Nova Schin é líder de mercado, com 29,8%, acima de todas as marcas da AmBev - Skol, Brahma e Antarctica. Seus dois principais mercados são Pernambuco, onde tem 33,8%, e Bahia, cuja fatia da empresa é de 39,5%. No Norte do país, a marca também está acima da sua participação nacional, com 13,5%.

E é justamente no Norte e Nordeste que a empresa faz a distribuição direta de seus produtos - sistema também adotado pelas concorrentes. Mas a distribuição direta representa apenas 27% do total. "Nossa base é a distribuição de terceiros", diz Francischinelli, evitando falar de uma mudança na estratégia de distribuição.

A deficiência de vendas no Sudeste reflete no parque fabril. Enquanto as quatro fábricas do Norte e Nordeste operam a plena capacidade, as de Itu, Rio de Janeiro e Igrejinha (RS) estão com ociosidade na casa dos 30%. "Estamos trabalhando para mudar o quadro", afirma o diretor.

A saída encontrada pela Schincariol - com o aval e recomendação da McKinsey - é a de aumentar o portfólio. "Não queremos ser uma empresa de cervejas, mas de bebidas", diz Adriano Schincariol.

A compra da microcervejaria Baden Baden indica a intenção de entrar no mercado superpremium de cervejas, já que a marca Primus - com um posicionamento de preço 20% acima de Nova Schin - não decolou. De acordo com o diretor da Schincariol, a idéia é manter a característica artesanal da Baden Baden e não estender a distribuição para as nove fábricas da Schincariol. "Estamos fazendo um estudo para otimizar o aproveitamento das instalações em Campos do Jordão."

A empresa, que já atua nos mercados de água e refrigerantes, já olha novas oportunidades no mercado de sucos prontos para beber. "Vamos entrar no mercado de sucos prontos, estamos estudando se através de aquisição ou com uma marca própria", afirma Francischinelli.

Embora o volume de vendas e o respaldo da marca seja muito maior em cervejas, a área de não alcoólicos é a que mais cresce na Schincariol: representava 16% em 2004 e saltou para 24% no ano passado. O volume de vendas de cerveja foi de 1,640 bilhão de litros e de água e refrigerantes somou 660 milhões de litros.

Apesar da queda de participação em cervejas, segundo a Nielsen, o balanço de 2006 da empresa mostra números positivos. O faturamento subiu 17,5%, para R$ 3,6 bilhões e o lucro bruto aumentou 46,7%, atingindo R$ 330 milhões.

A Schincariol afirma que a Mc Kinsey entrou na empresa no início de 2005, mas os herdeiros da cervejaria decidiram reorganizar a empresa depois da Operação Cevada, quando o Ministério Público denunciou à Justiça 78 pessoas por formação de quadrilha, corrupção e falsificação de documentos. Na ocasião, o dono da companhia, Adriano Schincariol, foi preso.

O trabalho da McKinsey, segundo a Schincariol, não está ligado à área fiscal - mas sim à gestão, distribuição, marcas e aumento da produtividade. Fontes do mercado, porém, afirmam que a consultoria também teria entrado nessa seara e está empenhada na renegociação da dívida. De acordo com o balanço, em 2006 - depois da instalação dos medidores de vazão - a Schincariol pagou R$ 1,617 bilhão em impostos, um aumento de 18,2% em relação ao ano anterior.

A McKinsey está procurando dar uma identidade corporativa à familiar Schincariol. Um time de cerca de 15 pessoas fica integralmente na companhia. Apresentam modelos de fora, de trabalhos implementados em outras cervejarias. A idéia é profissionalizar a companhia para que os controladores possam ir para o conselho de administração.

Segundo o Valor apurou, no entanto, a chegada de um novo presidente não deve ocorrer logo, embora a empresa de recolocação de executivos Egon Zender tenha sido contratada para essa missão.

Além do CEO, a empresa procura um novo diretor de marketing. O cargo, ocupado até outubro por Luis Claúdio Taya de Araújo, ainda está vago. Adriano Schincariol cuida do assunto diretamente com os diretores de marketing. Executivos da concorrência foram procurados com propostas de salário bastante atrativas, mas não aceitaram.

A profissionalização da gestão é uma das preocupações de Adriano Schincariol. "Estivemos com várias das 100 maiores empresas familiares para trocar experiências", conta. "Quero buscar novas fronteiras para o grupo", diz . Para o diretor de relações institucionais, o trabalho da McKinsey ainda deve se estender por mais um ano.

No mercado cervejeiro, porém, a leitura sobre a entrada da McKinsey é uma só: preparar a empresa para a venda. Adriano nega veementemente essa possibilidade. A Femsa teria olhado o ativo, mas a mais cotada para a compra seria a sul-africana SAB Miller, que na semana passada, anunciou que planeja investir US$ 1,8 bilhão na América Latina.