Título: Tucano será o candidato da terceira via à presidência da Câmara
Autor: Ulhôa, Raquel e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2007, Política, p. A9

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) foi lançado, ontem, candidato da terceira via à Presidência da Câmara dos Deputados pelo grupo de parlamentares que defendem uma alternativa aos dois candidatos da base governista governista: Aldo Rebelo (PCdoB-SP), atual presidente da Casa, e Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo. A iniciativa foi comemorada por apoiadores de Aldo, porque interrompe uma seqüência de fatos positivos criados pela campanha do petista. Aliados de Aldo avaliam que se Fruet tiver potencial para levar a disputa para o segundo turno, o parlamentar comunista pode ser favorecido.

Antes da reunião do chamado "grupo independente" - que reuniu 16 parlamentares do PPS, PV, PSB, PMDB e do PSDB e o lançou candidato -, Fruet recebeu apoio de 13 deputados tucanos, em almoço na Câmara. O grupo começou ontem mesmo os contatos com o restante da bancada para tentar unir o partido. "Continuar sem o aval do PSDB seria aumentar a cizânia interna", reconheceu Fruet.

"Estamos dando uma saída para a superação da crise do PSDB", afirmou o deputado recém-eleito Paulo Renato Souza (PSDB-SP). Na noite anterior, ele participou de reunião com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e outras lideranças tucanas para tratar da crise no partido. O lançamento de uma candidatura do PSDB é vista como caminho para unir o partido.

Na semana passada, com base em consulta telefônica a deputados, o líder do partido, Jutahy Júnior (BA), anunciou que a bancada tucana apoiaria Chinaglia. Segundo ele, essa posição foi manifestada por 34 dos 63 deputados que o partido deverá ter a partir da próxima legislatura.

Como houve forte reação de setores do PSDB ao anúncio - inclusive de FHC e do presidente da legenda, senador Tasso Jereissati (CE), à forma e ao resultado da consulta -, Jutahy teve de convocar reunião da bancada para rediscutir a questão. Ele dizia estar confiante na ratificação da adesão ao petista, mas, com uma candidatura própria, a expectativa de Fruet e de seus apoiadores no PSDB é convencer a bancada toda a rever a adesão. A reunião está marcada para terça-feira.

"Não há hipótese de o PSDB não apoiar Fruet", afirmou o deputado Sílvio Torres (PSDB-SP). "O PSDB vai ter que definir se apóia um candidato do PT ou um candidato próprio", disse Fruet. Segundo ele, a intenção é romper com a "disputa quase antropofágica entre dois candidatos da base do governo".

O candidato tucano entra na disputa pela presidência da Câmara com cerca de 40 votos: 22 do PPS (único partido institucionalmente integrado no movimento pela terceira via), 1 do PV - Fernando Gabeira (RJ) -, 1 do PSB - Luiza Erundina (SP) -, os 13 do PSDB que participaram do almoço de ontem, e outros tucanos que não estavam presentes, mas manifestaram apoio.

O P-SOL discordou da escolha de um tucano para representar a terceira via e abandonou o movimento. "Um nome do PSDB não é o mais adequado para encarnar essa frente", explicou Chico Alencar (RJ). Se conseguir obter o apoio do PSDB na reunião de terça-feira, Fruet poderá reunir 90 votos. Sua meta é alcançar de 120 a 140 votos, o que poderia garantir a realização do segundo turno. Um dos compromissos assumidos por ele, como candidato, é a posição contrária ao reajuste de 91% do salários dos parlamentares, que foi defendido pelos outros dois candidatos.

No lançamento de sua candidatura, que considera ter viabilidade eleitoral, Fruet leu um documento assumindo compromisso com os seguintes pontos: autonomia do parlamento, aprovação imediata do voto aberto no Congresso, racionalização e transparência dos gastos da Câmara, definição de critérios permanentes para a remuneração dos parlamentares e contra o reajuste de 91% defendido pelos outros dois candidatos, atualização do regimento da Câmara, prioridade à reforma política, contra o contingenciamento de verbas orçamentárias, garantia do direito das minorias e recuperação do poder fiscalizador do Legislativo.