Título: Empresa de SP ainda dá prejuízo e funcionários querem ajuda do Estado
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2007, Internacional, p. A10

Nos corredores da Flaskô, a única fábrica apoiada por Hugo Chávez em São Paulo, nada indica, à primeira vista, que a empresa é comandada pelos próprios funcionários. Ainda há chefes e operários, os horários dos turnos continuam sendo registrados, a equipe de vendas negocia normalmente com clientes e a fábrica está na fase final da certificação de ISO 9000.

Mas, por trás das aparências, há um processo de comando e decisão nada convencional numa economia capitalista. A instância mais alta é a Assembléia Geral, composta por todos os 95 funcionários. Abaixo dela está o Conselho de Fábrica, com membros eleitos, que fazem reuniões semanais. As decisões mais difíceis - como quais contas pagar ou sobre cortar o próprio repasse previdenciário - seguem para a Assembléia.

Em 2003, depois de meses sem pagar salário, com cortes constantes de energia por falta de pagamento e quilos de processos trabalhistas por sonegação previdenciária, os donos da Flaskô (e também da Cipla e da Interfibra), Luis e Ancelmo Batschauer, estavam a caminho de fechar as portas da fábrica. Juntos, os dois são alvo de 430 processos em Santa Catarina, muitos por sonegação previdenciária.

Os empregados da Flaskô decidiram passar a tocar a empresa para tentar conseguir os recursos referentes à dívida trabalhista. O Valor tentou, sem sucesso, falar os Batschauer. O movimento é contra criar uma cooperativa. Não querem assumir o passivo dos antigos donos e querem manter direitos trabalhistas.

A inciativa remonta a ocupações feitas por anarquistas, comunistas, socialistas na Europa nos anos 20 e nos anos 60 e 70. Na Flaskô, muitos funcionários são admiradores Chávez. "Se os patrões no Brasil continuarem a explorar e a embolsar, a resposta vai ser com a de Chávez, que está implantando o socialismo na marra", diz o eletricista Antônio Rodrigues, de 58 anos.

A empresa vive no vermelho desde antes de os funcionários a assumirem, em 2003. O faturamento mensal é de R$ 1 milhão, e as despesas, $ 1,2 milhão. Como a maior parte da dívida é com o governo, os funcionários querem que o Estado estatize as três fábricas, mantendo-as sob o "controle operário". A opção é descartada por Brasília. (M.M.S.)