Título: Para FMI, Venezuela vai afastar investidor
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2007, Internacional, p. A10

O Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiu ontem o governo da Venezuela para os riscos que a nacionalização de setores-chave da economia poderá criar para a credibilidade do país, sua capacidade de atrair investidores externos e a continuidade do ritmo acelerado de crescimento dos últimos anos.

"A questão não é tanto quem é dono do quê, mas a estabilidade das decisões", afirmou o diretor-gerente do Fundo, Rodrigo de Rato, numa entrevista em Washington. "Ainda não sabemos se haverá mudanças na legislação, mas aconselharíamos as autoridades a manter estáveis as condições de investimento."

Ele disse que não gostaria de julgar o anúncio feito na semana passada pelo presidente Hugo Chávez sem conhecer os detalhes de como a nacionalização será realizada, mas afirmou que a criação de um ambiente atrativo para os investidores estrangeiros deveria ser a principal preocupação do país.

O diretor do FMI também manifestou preocupação com a maneira como serão tratados os ativos das companhias estrangeiras que têm negócios na Venezuela e poderão ser afetadas pela nacionalização. "Se o governo decidir mudar a propriedade dos meios de produção, é claro que o processo deve ser conduzido de forma ordenada", disse.

Faz bastante tempo que a Venezuela parou de prestar atenção às recomendações do FMI, e os conselhos de Rato certamente serão ignorados em Caracas. Mas a advertência do Fundo poderá ajudar a reforçar as pressões que países como os Estados Unidos deverão fazer nos próximos meses para defender os interesses das companhias ameaçadas pelos planos de Chávez.

A Venezuela não toma dinheiro emprestado do FMI desde 1996 e pagou o último centavo que devia em 2001. Os países que fazem parte do Fundo costumam receber uma vez por ano uma equipe de técnicos da instituição para analisar a conjuntura econômica e as políticas adotadas pelo governo. A última vez que uma missão dessas pisou na Venezuela foi em 2004.

O FMI manifestou repetidas vezes nos últimos meses sua preocupação com o aumento elevado dos gastos do setor público na América Latina. Segundo o Fundo, a Venezuela é o país em que a aceleração das despesas é mais alarmante, num momento em que a queda dos preços do petróleo ameaça tirar o brilho da principal fonte de receitas do governo venezuelano.

Na entrevista de ontem, Rato também criticou a intenção de Chávez de reduzir a independência do Banco Central venezuelano. "Bancos Centrais independentes têm sido elementos muito importantes para lidar com pressões inflacionárias e manter a estabilidade macroeconômica dos países", afirmou.

Ele preferiu adotar postura mais cautelosa ao se manifestar sobre o Equador. O presidente Rafael Correa, um aliado de Chávez que tomou posse na segunda-feira, promete renegociar a dívida externa do país, de US$ 11 bilhões, numa tentativa de reproduzir o êxito alcançado pela Argentina ao renegociar suas dívidas após o calote de 2002.

"Iniciamos um diálogo com o novo governo e tivemos uma conversa construtiva", afirmou o diretor do FMI. "Eles nos disseram que nenhuma decisão sobre a dívida foi tomada ainda e este não é o momento para especulações." Correa já anunciou sua disposição de quitar a dívida que o Equador ainda tem com o FMI, de US$ 33 milhões. Rato disse que a decisão é "bem-vinda", mas sabe que ela tende a reduzir ainda mais o interesse do Equador pelos seus conselhos.