Título: Adesão de Equador ainda deve demorar
Autor: Góes, Francisco e Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2007, Especial, p. A14

O Equador ainda não oficializou ao Mercosul nenhum pedido para ingresso do país como sócio pleno do bloco. O que existe, segundo diplomatas ouvidos pelo Valor, é uma declaração do presidente equatoriano Rafael Correa, antes de tomar posse, sobre a vontade do país em aderir ao Mercosul. Correa deverá estar presente na reunião de cúpula do bloco, na sexta, no Rio, e não se descarta que no discurso ele reitere a disposição do seu país de associar-se ao Mercosul.

Segundo as fontes, seria preciso de qualquer maneira que o Equador formalize o pedido de adesão. Os sócios do Mercosul estão concentrados, no momento, no pedido de adesão feito pelo presidente da Bolívia, Evo Morales. Segundo fontes diplomáticas, pode haver uma determinação dos presidentes do bloco para incorporar a Bolívia como sócio pleno. Mesmo com uma decisão política, será preciso criar um grupo de trabalho para estudar as implicações da adesão da Bolívia e em que condições ela se daria.

Uma fonte disse que o caso da Bolívia é diferente do da Venezuela em que houve uma determinação política para trazer o país comandado por Hugo Chávez para dentro do bloco do Cone Sul. Enquanto a Venezuela disse de forma clara que queria ser sócia plena do Mercosul, a Bolívia teria manifestado que gostaria de participar como sócia do bloco desde que pudesse manter-se como integrante da Comunidade Andina (CAN) e desde que o Mercosul concordasse em lhe estender tratamento especial por ser um país pobre.

Lúcia Maduro, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e coordenadora da Coalizão Empresarial, avalia que a Bolívia não deveria entrar no Mercosul sem aderir à Tarifa Externa Comum (TEC), porque dificultaria as negociações com terceiros mercados, como a União Européia. Segundo Lúcia, os empresários ficaram muito "ressabiados" com a entrada da Venezuela no bloco sem qualquer consulta prévia.

Um dos principais temas a ser tratado pelo grupo de trabalho que discutirá a adesão da Bolívia ao Mercosul passa pela harmonização da Tarifa Externa Comum (TEC), aplicada sobre a importação de produtos de terceiros mercados. Ocorre que a tarifa média da Bolívia é inferior à do Mercosul, o que dificulta um acordo.

O embaixador Sérgio Amaral, ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso e atual coordenador do centro de estudos internacionais da FAAP, avalia que o Mercosul caminha para um alargamento, mas que existe uma ampla diversidade de posições entre seus membros atuais e futuros. Amaral explica que, enquanto Venezuela, Bolívia ou Equador querem uma "revolução bolivariana", Uruguai e Paraguai se aproximam dos Estados Unidos. "Dessa maneira, o alargamento do bloco pode representar um risco de implosão", avalia o embaixador.

O acordo marco de comércio e investimentos entre Uruguai e Estados Unidos, previsto para ser assinado no dia 27 deste mês, será discutido nesta reunião de cúpula do bloco por meio de um ponto na agenda chamado de "Situação do Mercosul: estado de implementação do artigo primeiro do Tratado de Assunção". Neste capítulo estão vários temas, como o acordo Estados Unidos-Uruguai e o conflito das papeleiras entre Uruguai e Argentina.