Título: Empresários apóiam acordo entre bloco e o Golfo Pérsico
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2007, Especial, p. A14

O acordo entre o Mercosul e os países do Conselho de Cooperação do Golfo - que deve ser assinado durante a reunião de cúpula do bloco do Cone Sul essa semana - atraiu a atenção dos empresários. A iniciativa está em linha com a política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que privilegia as relações com os países em desenvolvimento e recebe críticas ferozes do setor privado. Só que, dessa vez, o empresariado vê possibilidades concretas de lucro.

"São países ricos por conta dos recursos do petróleo, que importam praticamente tudo que precisam. Existe um bom potencial para ampliar as vendas do Brasil", avalia Lúcia Maduro, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e uma das coordenadoras da Coalizão Empresarial Brasileira (CEB).

Com uma população de mais de 23 milhões de pessoas, os países do Conselho de Cooperação do Golfo - Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Catar, Kuait e Omã - somam cerca de US$ 415 bilhões de Produto Interno Bruto (PIB). As importações desses países crescem a taxas de cerca de 80% ao ano, impulsionadas pelo alto preço do petróleo. Arábia Saudita e Emirados Árabes são maiores países da região e respondem por mais de 70% das compras no exterior.

De acordo com estudo elaborado pela CNI, existem boas oportunidades para o Brasil aumentar suas exportações para a Arábia Saudita e para os Emirados Árabes em diversos setores: veículos, calçados, cerâmica, ferramentas, mecânica, máquinas e aparelhos elétricos, móveis, frutas, borracha, entre outros. São produtos em que o Brasil é importante produtor, mas sua participação nos mercados árabes é pequena. A União Européia é a principal fornecedora de produtos para a região e enfrenta a concorrência acirrada da China.

Nos Emirados Árabes Unidos, as tarifas de importação de boa parte dos produtos que representam oportunidades para o Brasil estão em 15%. A Arábia Saudita cobra 10% de taxa de importação para um número significativo desses produtos, mas há picos de 20%. O estudo da CNI conclui que essas tarifas constituem uma barreira efetiva para o acesso dos produtos brasileiros e que um acordo de livre comércio pode ajudar bastante.

Os dois blocos anunciaram a intenção de negociar um acordo de livre comércio em maio de 2005 durante a Cúpula América do Sul - Países Árabes em Brasília. Desde então foi realizada uma série de encontros bilaterais de negociação - o último em Bruxelas, na Bélgica, no início desse mês. Hoje ocorre uma nova reunião no Rio de Janeiro, na véspera do encontro dos países do Mercosul. A delegação de negociadores árabes no país é chefiada pelo subsecretário-geral para assuntos econômicos do Conselho de Cooperação do Golfo, Mohamed Al'Mazrooei.

Ainda não está claro se o acordo estará pronto para a assinatura dos presidentes durante a cúpula na quinta e sexta-feira. O mais provável é que os presidentes assinem um texto com os termos gerais de acordo, mas que a negociação final sobre os produtos só ocorra em junho.

O embaixador Regis Arslanian, diretor do departamento de negociações internacionais do Itamaraty, diz que o acordo com os países do Golfo será abrangente, incluindo mais de 90% de universo tarifário. Os dois blocos já trocaram algumas listas de ofertas. Segundo uma fonte próxima à negociação, os árabes incluíram em sua oferta os automóveis, um dos produtos que mais interessam ao Brasil.

O comércio do Brasil com os países dessa região cresceu muito na última década. As exportações brasileiras para a Arábia Saudita quintuplicaram no período, subindo de US$ 398 milhões em 1997 para US$ 1,48 bilhão no ano passado. As vendas do país para os Emirados Árabes Unidos também cresceram de US$ 250 milhões para US$ 1,04 bilhão em dez anos.