Título: Crédito imobiliário dobra em 2006
Autor: Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2007, Finanças, p. C1

O crédito imobiliário praticamente dobrou no ano passado, atingindo R$ 9,5 bilhões. O mês de dezembro teve o maior volume de empréstimos em 20 anos- R$ 1,03 bilhão. Pela primeira vez em 18 anos, o mercado imobiliário superou 100 mil unidades financiadas, com 115,5 mil. Incluindo recursos do Fundo de Garantia para habitação popular repassados pela Caixa Econômica Federal, o total aplicado no setor imobiliário chega a R$ 16,3 bilhões.

O presidente da Abecip, Décio Tenerello, diz que a expectativa em 2006 era de R$ 6 bilhões, e prevê novo crescimento do volume de empréstimos de até 20% este ano, para cerca de R$ 11 bilhões. O total das unidades financiadas deve aumentar mais, de até 15 a 30%, para 130 mil a 150 mil unidades, porque a tendência é de redução do valor unitário financiado. Tenerello acredita que os bancos tentarão atender a faixa de renda entre 5 e 8 salários mínimos para imóveis entre R$ 70 mil e R$ 120 mil. Hoje são atendidos principalmente clientes com renda superior a 8 mínimos.

"Não teremos um crescimento do volume igual ao do ano passado, porque o boom foi consequências das leis que destravaram o crédito", diz Tenerello. "Agora a tendência é atender à população que até agora não tinha acesso a crédito imobiliário, como já estão fazendo as construtoras". As famílias com renda entre 5 e 8 salários mínimos concentram 8% do déficit habitacional- ou 620 mil unidades. Clientes com renda abaixo de 5 mínimos não conseguem pagar um crédito privado sem subsídio do governo.

O valor médio financiado chegou a R$ 82 mil no ano passado. Em 2006 houve um pequeno aumento do valor financiado (R$ 79 mil em 2005) porque os bancos aumentaram a parcela de crédito em relação ao valor do imóvel. Esse efeito não deve se repetir este ano, já que os bancos estão financiando até 80% do valor total.

O ano foi o primeiro em que as instituições aplicaram bem mais do que o exigido em relação ao saldo de poupança. Bradesco, Santander e Caixa colocaram como meta investir R$ 2 bilhões em crédito com recursos da poupança. Real e Itaú aplicaram cada um R$ 1,2 bilhão, superando a exigibilidade. Neste ano, o setor privado está entusiasmado. O Bradesco elevou sua meta para R$ 3 bilhões, assim como a Caixa. O Itaú subiu a sua para R$ 2 bilhões.

As razões do crescimento do mercado, segundo os bancos, foram a redução da taxa de juros básica, maior segurança jurídica e crescimento da massa salarial. Discussões judiciais sobre o cálculo dos juros não desobrigam mais o pagamento do principal, por exemplo. Com isso, os níveis de inadimplência continuam caindo. Em dezembro, o percentual de mutuários em atraso foi de 6,2%, ante 8,5% em dezembro de 2005 e 9,7% no mesmo mês de 2004. Parte da redução ocorre porque contratos novos têm menos atrasos, mas a legislação hoje desestimula o recurso fútil à Justiça.

Depois das mudanças legais em 2004, os principais ajustes para fazer o mercado crescer daqui para frente serão do setor privado.

O primeiro é a padronização dos contratos imobiliários, que permitirá a criação de um mercado secundário de hipotecas. "Pretendemos chegar a um acordo para que haja no máximo seis tipos de contrato", diz Tenerello. Outra mudança- essa precisa de amparo legal- será a desburocratização e informatização da matrícula imobiliária. Eventuais bloqueios na venda do imóvel seriam checados mais rapidamente.

A captação da caderneta também cresceu- o resultado líquido do ano foi de R$ 4,9 bilhões. Só em dezembro os depósitos superaram saques em R$ 6,3 bilhões. Se a tendência continuar, os bancos serão obrigados a aplicar mais em crédito imobiliário.