Título: Impacto de crise política fica limitado a Venezuela e Equador
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini e Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2007, Finanças, p. C2

O impacto das ameaças de reestatização de empresas e corte nos lucros dos bancos feitas por Hugo Chávez, presidente da Venezuela, e de moratória da dívida externa, feitas pelo novo presidente do Equador, Rafael Correa, acabou ficando restritos aos mercados dos dois países. "Por enquanto, são só bravatas. Mas, se elas se tornarem realidade, o contágio poderá ser maior", diz Ricardo Amorim, estrategista do WestLB para América Latina.

Ele explica que a forte liquidez internacional tem feito com que os investidores ignorem notícias negativas e continuem a buscar retorno. Além disso, diversos países da América Latina, hoje, estão com reservas internacionais elevadas - US$ 38 bilhões da Venezuela e US$ 3 bilhões do Equador -, são credores externos líquidos e estão longe de apresentar dificuldades no fluxo de pagamento. Por isso, qualquer decisão de moratória é meramente política e o risco de contágio também é político.

Na Venezuela, o mercado acionário foi o mais afetado, pois a probabilidade de reestatização é grande e os acionistas controladores dessas empresas ainda não sabem de que forma serão ressarcidos. Depois que Chávez anunciou que o Estado retomaria o controle de companhias, a bolsa do país caiu 19,83%. Ontem, após as ameaças de corte nos lucros dos bancos, passou a acumular tombo de 29,73% no período.

No Equador, o risco de não-pagamento da dívida externa cresceu. Por isso, o risco-Equador, medido pelo spread do "swap" de crédito de vencimento em cinco anos do país, que era de 170 a 180 pontos básicos antes de Correa assumir, foi a 850 pontos, no final de dezembro, para cair para um nível de 600 pontos, ontem. O risco-Equador também chegou a ser afetado pelas declarações estatizantes do presidente da Venezuela. Medido pelo índice EMBI, que mistura papéis de diversos vencimentos, passou de 870 pontos básicos no dia 5 para 893 pontos básicos no dia 10. As ameaças de Chávez iniciaram-se no dia 8. Mas, ontem, o risco-Equador caiu a 825 pontos.

Outro país que sofreu contágio inicial das declarações de Chávez foi a Argentina. O país foi incluído na categoria "esquerda populista" pelos analistas da Fitch Ratings, em conjunto justamente com a Venezuela, Equador e Bolívia. É a esquerda "nacionalista, de mente fechada e que não aprendeu com os erros do passado", diz a agência. A Argentina até chegou a postergar a emissão de US$ 500 milhões em papéis no mercado interno, denominados em dólar, por causa das declarações de Chávez, segundo o jornal "Ambito Financiero". Mas, o susto já passou.

Ontem, a agência de classificação de risco de crédito Moody´s elevou a perspectiva da nota Argentina de estável para positiva, em uma decisão atribuída a uma combinação de "melhora contínua nos resultados fiscais e uma forte acumulação de reservas". A classificação da Argentina pela Moody´s é B3. Com isso, o risco-Argentina medido pelo EMBI foi a 200 pontos básicos, uma queda de 3,28% com relação a anteontem e de 10,71% depois das declarações de Chávez.

Em meio ao otimismo, o secretário das finanças argentino, Sergio Chodos, fará esta semana viagem ao México para encontro com um grupo de investidores internacionais para lançar o título cuja emissão foi postergada, o Bonar VII, diz o "Ambito Financiero". A intenção é captar US$ 1 bilhão com estes títulos que vencem em 2013, a uma taxa menor que a registrada na última emissão, em novembro, que foi de 8%.

Segundo rumores no mercado internacional, o Brasil também estaria se preparando para emitir títulos, mas no mercado internacional e denominados em reais, segundo o "IFR Markets". Há bancos defendendo que os prazos deveriam ir a 20 anos.

O Brasil, segundo a Fitch, tem um governo que faz parte da outra esquerda na América Latina, a "esquerda moderada", que tem "mente aberta", é "moderna" e segue um "modelo relativamente ortodoxo de política macroeconômica", do qual fazem parte Uruguai, Peru, República Dominicana e Chile. Por isso, o risco-Brasil foi pouco afetado pelas declarações de Chávez e até caiu após as declarações de Correa, no ano passado. Ontem, medido pelo "swap" de crédito, estava a 96 pontos básicos, perto de seu recorde de baixa de 95 pontos. Medido pelo EMBI, foi a 192 pontos, uma queda de 0,72% no dia e de 3,03% após as declarações de Chávez.