Título: Submarino e Americanas explicam-se ao Cade
Autor: Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2007, Empresas, p. B3

O Submarino e a Lojas Americanas - sócios na criação da B2W Companhia Global de Varejo, a maior empresa de comércio eletrônico do Brasil - informaram ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), do Ministério da Justiça, que concentram uma fatia de apenas 2% do varejo total. Conforme a argumentação, outras grandes redes como Wal-Mart e Carrefour, podem, com investimentos bastante reduzidos, ingressar no mercado de vendas pela internet e ampliar a competição.

As empresas também disseram que não terão como aumentar os preços dos produtos vendidos pela internet, pois, se o fizerem, o consumidor poderá deslocar suas compras para o varejo tradicional.

A tese foi apresentada ao Cade, órgão que irá julgar se a fusão do Submarino com a Americanas é ou não prejudicial à concorrência. O órgão antitruste sorteou, na quarta-feira passada, o conselheiro-relator do processo, o economista Luiz Carlos Delorme Prado. Caberá a ele verificar em que medida as empresas de comércio eletrônico competem com o varejo tradicional.

Se o Cade decidir se focar no comércio eletrônico, verá que a fusão Americanas-Submarino marcou a união da líder com a vice-líder do mercado e criou uma empresa com mais de 50% dos negócios na área - informações que seriam preocupantes para o julgamento de fusões em qualquer setor da economia.

A tese das empresas, no entanto, é justamente a de que elas competem diretamente com o comércio tradicional, estimado em R$ 213 bilhões pelo IBGE. Nessa conta está todo o varejo tradicional, à exceção dos setores de alimentação, bens usados, combustíveis e gás liquefeito de petróleo.

"Não haveria porque segmentar o mercado varejista em razão dos canais de venda (internet e lojas), uma vez que é indubitável que os preços do varejo tradicional contestam eventual aumento de preço do mercado 'on-line'", argumentam as companhias na petição enviada ao Cade.

O documento traz levantamentos feitos nos Estados Unidos pela empresa de pesquisa Forrester, indicando que o varejo deve ser visto como um único mercado. "Não seria pertinente pensar que, no Brasil, onde o comércio eletrônico não atinge 2% do varejo total, as empresas atuantes no varejo 'on-line' poderiam atuar independentemente da dinâmica de preços e oferta do varejo tradicional", afirmam o Submarino e a Americanas no texto.

As pesquisas feitas nos EUA mostram que, mesmo naquele país, onde a internet está consolidada, as lojas tradicionais permanecem na preferência dos consumidores. Segundo a Forrester, a venda pela internet traz mais comodidade, mas, por outro lado, conta com dificuldades, como a impossibilidade de o consumidor avaliar o produto ao vivo, acessá-lo imediatamente e barganhar preço.

O Submarino e as Americanas argumentaram ao Cade que as barreiras à entrada de concorrentes no mercado de vendas pela internet são insignificantes. As empresas calcularam em, no máximo, R$ 100 mil os investimentos para montar um portal de vendas. "Para quem possui marca estabelecida e escala, a entrada requer apenas a montagem de um 'web site', cujo software está facilmente disponível no mercado, e uma rede de distribuição, que pode ser, inclusive, terceirizada." Essas empresas poderiam entrar no varejo "on-line" em três ou quatro meses, "com escala suficiente para conquistar parcelas significativas de mercado", de acordo com a B2W.

A petição cita o caso de grandes fabricantes como Brastemp, Sony, Dell e Som Livre, que não atuam no varejo direto, mas reúnem condições atraentes para atuar no mercado "on-line". E enfatiza que tanto os grandes varejistas, como Wal-Mart e Carrefour, quanto os pequenos, podem entrar com facilidade no mercado on-line. Os pequenos contariam com as ferramentas de busca e os sites de comparação de preço, como Buscapé, Bondfaro e Google, para avaliar produtos, preços e serviços dos concorrentes.

Segundo os sócios da B2W, a criação da empresa tornou possível ganhar escala e aumentar o portfólio de produtos. A fusão dos sites foi apresentada como um melhor posicionamento das empresas para "capturar os benefícios" decorrentes do crescimento do varejo no Brasil. "A associação permitirá uma combinação de práticas e plataformas operacionais" e dará "maior visibilidade (...) no mercado varejista", dizem as companhias.