Título: Para fabricantes, troca de celular dará o tom no mercado em 2007
Autor: Magalhães, Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2007, Empresas, p. B3

O ano de 2007 tem tudo para marcar uma mudança estrutural no mercado de telefones celulares. Segundo estimativas de grandes fabricantes, no ano passado foram vendidos cerca 25 milhões de terminais, sendo 14 milhões para novos usuários e 10 milhões para aqueles que trocaram de aparelho. A proporção agora deve se inverter.

Neste ano, a expectativa é de que o mercado absorva os mesmos 25 milhões, mas com as trocas liderando as vendas. Há fabricantes planejando uma carteira de produtos com foco num mercado de 15 milhões de terminais de reposição. Os mais otimistas projetam que as trocas ultrapassarão 20 milhões. Os usuários estão, cada vez mais, sendo atraídos pelas novidades da tecnologia.

O certo é que acabou o tempo de céu de brigadeiro em que celular vendia como água e era fortemente subsidiado pelas operadoras - a maioria reduziu a prática em busca de maior rentabilidade. Com 54 telefones móveis para cada cem habitantes no Brasil e perspectiva de crescimento de novos usuários em baixa, a ênfase na troca significa que os fabricantes precisam sofisticar os produtos, mas sem onerar muito o preço final.

O jeito é unir atrativos como câmera fotográfica, MP3, acesso à internet a um preço acessível ao bolso do brasileiro. "Nossa filosofia é sermos inovadores", afirma o principal executivo da Sony Ericsson no Brasil, Silvio Stagni.

Ele diz que aposta em especial nas duas competências que tem "em casa". Uma delas é a linha do consagrado Walkman da Sony e outra passa pelas câmeras fotográficas do fabricante japonês.

Stagni informa que, em 2006, 17% dos celulares vendidos no mundo tinham câmera fotográfica e a expectativa é de que neste ano essa fatia oscile de 85% a 90%. Já existem celulares com câmeras de resolução de 3,2 megapixels e o preço dos terminais está caindo. No Brasil, no final de 2005 os celulares com câmera custavam na faixa dos R$ 1 mil. No final de 2006, já havia promoções com modelos a R$ 299.

Os dados da Anatel divulgados ontem evidenciam já em 2006 a redução no ritmo de crescimento de novos adeptos ao serviço. O números ainda são preliminares mas o órgão regulador acredita que dezembro fechou com quase 100 milhões de celulares em uso, o que significa crescimento de 16% na comparação o ano anterior. Segundo fabricantes, 2007 deverá ter expansão ainda menor - com alta de 10% sobre 2006. Em 2005, o aumento de novos usuários foi de 31,4%.

O presidente da Motorola, Enrique Ussher, diz que "não deveria ser impossível o Brasil chegar a 140 milhões de usuários". Ele pondera que os cenários não são comparáveis, mas lembra que na Europa a adesão é de 100%.

O diretor da área comercial da celular da LG, Carlos Mello, observa que as classes A e B estão atendidas e para avançar nas classes C e D é mais complexo. "Vai depender de políticas de governo de forma a favorecer a universalização", avalia. Para ele, os recursos do Fust (Fundo de Universalização em Telecomunicações) poderiam ser um caminho.

"O Brasil é um mercado muito grande, com oportunidades para o varejo. A redução do subsídio por parte das operadoras, a chegada dos terminais desbloqueados [sem restrição para uma ou outra operadora] e o mercado de troca favorecem o varejo. O consumidor está procurando um terminal com características específicas para ele, como música ou perfil multimídia. O fabricante precisa ter portfólio com produtos para atingir os principais segmentos", afirma o presidente da Motorola.

A Alcatel está voltando ao mercado de aparelhos com esse enfoque. "E a saída para quem chega a um mercado já ocupado é oferecer um produto focado. O primeiro lançado terá MP3", afirma o diretor da companhia Eduardo Chacon. Segundo ele, esse aparelho custará R$ 349. A empresa pretende ter oito modelos até o fim do ano.

A Alcatel fez um acordo com a chinesa TCL, em 2004, para produzir aparelhos. As duas decidiram que a marca dos celulares será TCL no país de origem e Alcatel no resto do mundo. No Brasil, os produtos serão montados pela Flextronics. No ano passado, foram comercializados 12 milhões de aparelhos no exterior.

O diretor da Samsung, Oswaldo Mello, diz os fabricantes vão continuar produzido terminais mais acessíveis, pois uma camada grande da população brasileira não pode pagar por um telefone mais sofisticado. Porém, com o crescimento do mercado de troca, a tendência será de se voltar mais para os terminais de média gama.