Título: Água com sabor cresce e desafia os refrigerantes
Autor: D'Ambrosio, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2007, Empresas, p. B4

Finalmente, as empresas que disputam o mercado de água têm um diferencial para oferecer - além do rótulo ou uma embalagem com design mais atrativo. Sabores de frutas e vitaminas chegaram para criar uma nova geração de produtos e chacoalhar o segmento mais carente de novidades no marqueteiro universo das bebidas. Em poucos mais de quatro meses, essa nova fórmula já caiu no gosto do consumidor.

Depois das gigantes dos refrigerantes, Coca-Cola e Pepsi, estrearem no setor - a Pepsi com a sua versão gasosa, inclusive, já rouba mercado de marcas consagradas, como Coca e Guaraná light- agora é a vez das fabricantes nacionais de água mineral abraçarem esse novo nicho. A Via Natural, do interior paulista, e a Ouro Fino, do Paraná, já preparam suas águas "turbinadas".

Mas o diferencial do sabor já chega ao insípido mercado de água mineral sob polêmica. Legalmente, o termo água saborizada não pode ser usado no Brasil - a nomenclatura correta é preparado líquido aromatizado.

Quando lançou a H2OH!, único produto gaseificado do novo segmento, a Pepsi registrou o produto no Ministério da Agricultura como refrigerante. A Associação Brasileira da Indústria de Água Mineral (Abinam), porém, pediu ao Ministério da Agricultura e ao Ministério Público do Estado de São Paulo a retirada do produto do mercado e o cancelamento do registro. A entidade alegou que a bebida confunde o consumidor ao adotar o símbolo da água para nomear um refrigerante.

Mas o brasileiro adora uma novidade e as águas com sabor, uma forte tendência em mercados maduros, parecem ter agradado por aqui também. Essa nova bebida aproveita a onda saudável dos sucos prontos, chás e água de coco e preenche a lacuna deixada aos poucos pelos refrigerantes. Todos os lançamentos desse mercado têm "zero-caloria" - o que significa dizer que contêm adoçante na fórmula. O que agrada os jovens, mas faz os pais mais preocupados vetarem a bebida para crianças.

Para aproveitar a demanda, a Via Natural lançou a Water Plus, que além do sabor contém vitaminas e ingredientes diversos. A de uva contém fibras para regular o intestino, a de maracujá, tem camomila e passiflora, e a de pêssego é acompanhada de zinco e ácido fólico. Há cerca de dois meses no varejo, o produto foi registrado como bebida adicionada de nutrientes essenciais.

Esta empresa já prepara seu segundo lançamento: a Via Natural Flavor nos sabores limão, maracujá, framboesa e pera, prevista para chegar às prateleiras na próxima semana. Cerca de 30% mais barata que a Water Plus, não é adicionada com vitaminas. "Resolvemos ter dois tipos de produto para atingir um público mais abrangente", afirma Antônio Vilela Filho, presidente da Via Natural.

A Ouro Fino também resolveu disputar essa seara. Nos próximos 30 dias, lança no Sul e Sudeste água com sabor de maçã e tangerina. "Procuramos sabores diferentes do que já existe e, a exemplo do que já acontece em outros países, estamos apostando nesse mercado", afirma Guto Mocellin, presidente do conselho de administração.

Apesar da polêmica no lançamento da H2OH!, a marca é sucesso de vendas. Classificada como refrigerante, apesar de ter 50% menos gás que a bebida convencional, já rouba mercado das versões light dos clássicos Coca-Cola e Guaraná. Foi lançado em setembro em São Paulo e em novembro no Rio. No mercado paulista de produtos diet e light, segundo dados AC Nielsen, a H2)H! tinha 2,1% em outubro. A fatia subiu para 11,2% em dezembro.

Entre setembro e dezembro, a Coca perdeu quatro pontos percentuais no mercado paulista, passando para 32,1% entre as bebidas light em São Paulo e o Guaraná - da própria AmBev - perdeu 3,2% e ficou com 17,5% de participação.

O crescimento foi tão rápido que, para atender a demanda, a AmBev (responsável pela produção e distribuição das marcas Pepsi no Brasil) ampliou a produção de uma para quatro fábricas. "Esse movimento em busca de um estilo de vida saudável não é mais nicho. É a grande massa", afirma Gustavo Siemsen, diretor de marketing da Pepsi.

Lançada em março do ano passado nas versões laranja e limão, a Aquarius, da Coca-Cola, está com uma distribuição ainda pequena em São Paulo porque o fabricante Coca da região, a mexicana Femsa, ainda não começou a produzir a nova água. A Aquarius começou a ser vendida em Ribeirão Preto, Rio de Janeiro e Recife e, numa segunda etapa, foi para Curitiba, Bauru e Belo Horizonte.

Nos Estados Unidos, as chamadas águas com valor agregado (adicionada de vitaminas, sais e sabor) estão conquistando o espaço perdido pelos refrigerantes. Segundo dados da Beverage Marketing Corporation, empresa especializada em pesquisa e consultoria na área de bebidas, cresceram mais de 200% em 2005 e movimentam US$ 455 milhões ou 14% do mercado de água mineral. Na Argentina, as águas com sabor já representam 30% do mercado de águas engarrafadas.