Título: Lula cobra ricos por aquecimento
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 13/02/2007, Brasil, p. A2

Em um sinal de que não pretende igualar-se aos países ricos no estabelecimento de metas para combater o aquecimento global, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou no mundo desenvolvido a responsabilidade pela queda na emissão de gases poluentes. Ele prometeu discutir a questão ambiental com o presidente americano, George W. Bush, que visitará o Brasil no dia 9 de março, e fez uma crítica indireta à política americana. "O Brasil tem autoridade moral e política para exigir que os países ricos, ao invés de ficarem produzindo protocolos que depois não assinam, cumpram com a sua obrigação de despoluir o planeta", disse o presidente, em referência ao Protocolo de Kyoto, que os Estados Unidos se recusaram a ratificar.

Pelas metas do acordo internacional, que dura até 2012, 35 países desenvolvidos se comprometeram a cortar as emissões de gases poluentes em 5% abaixo dos níveis de 1990, nos próximos seis anos. Para algumas nações européias, isso significa uma redução de até 15% sobre os índices atuais de lançamento de gases na atmosfera. Na próxima cúpula do G-8, sob presidência da Alemanha, o grupo de países mais ricos pretende discutir as bases de um novo compromisso obrigatório de corte nas emissões e já emitiu sinais de que exigirá a participação de emergentes como China, Índia e Brasil.

Lula, no programa de rádio "Café com o Presidente", confirmou o convite para ir à cúpula na Alemanha e disse que o Brasil tem feito a sua parte. "Nós estamos cumprindo com a nossa parte, nós estamos contribuindo para despoluir o planeta e precisamos exigir que os países ricos, que são responsáveis por 70% do gás carbônico jogado no mundo, diminuam essa poluição", frisou.

Nos bastidores, fontes do governo brasileiro encaram como inevitável a aceitação de futuras obrigações para reduzir a emissão de gases, mas acham que essa discussão só deve ocorrer para o pós-2012, quando o Protocolo de Kyoto expira e deverá ser substituído por um novo acordo. Para essas fontes, há uma tentativa de países ricos de atribuir mais ênfase no combate às queimadas de florestas, em vez de atacar a questão energética, hoje a principal fonte de emissão de gases poluentes, devido à geração de eletricidade por térmicas movidas a carvão mineral ou óleo diesel.

O presidente citou um estudo da Embrapa que compara a existência de áreas cobertas por florestas atualmente e há oito mil anos. De acordo com ele, o Brasil ainda preserva 69% dessas áreas, enquanto a América do Norte mantém apenas 32% e a Europa, míseros 0,3%. Em novembro do ano passado, na conferência da ONU sobre mudanças climáticas, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, apresentou a proposta de criação de um fundo internacional de combate ao desmatamento, a ser financiado "voluntariamente" por países ricos.

Hoje o Brasil já contribui com cerca de 3% das emissões globais de gases poluentes, especialmente o dióxido de carbono, em função das queimadas na floresta amazônica. Para a ministra, o fundo seria uma forma de recompensar financeiramente a preservação das matas. Mas o presidente, não se sabe se por confusão ou desautorizando Marina propositalmente, reagiu de forma contrária. "Os países pobres não podem aceitar a tese dos países ricos, apenas, de que eles criam um fundo para ajudar os países que não desmatam, ou seja, nós não desmatamos e eles continuam poluindo o planeta."

Lula disse ser possível conciliar crescimento econômico com respeito ao meio ambiente. E destacou o projeto de pavimentação da BR-163 (Cuiabá-Santarém) como exemplo de empreendimento ambientalmente sustentável.