Título: Barreiras dão 'equilíbrio', diz argentino
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 13/02/2007, Brasil, p. A4

O subsecretário de Negociações Econômicas Internacionais da Argentina, Néstor Stancanelli, argumentou ontem, em Genebra, que as restrições que Buenos Aires impõe a alguns produtos brasileiros visam estabelecer "um certo equilíbrio" intra-industrial no Mercosul.

Ele destacou que o Brasil é o principal exportador industrial para a Argentina e a Argentina o principal cliente dos produtos industriais do Brasil no mundo. E que, enquanto as importações procedentes do Brasil representam 37% do total na Argentina em valor, as importações brasileiras procedentes da Argentina ficam em 8,8% do total.

"O que teremos de entender é que alguns setores são sensíveis. O Brasil, com eletrodomésticos como geladeiras, está cobrindo 50% das importações argentinas totais. Em nenhum setor industrial a Argentina cobre esse percentual no Brasil", disse.

"Essas medidas (restrições) são para obter um certo equilíbrio em determinados setores que tem grande geração de empregos na Argentina", acrescentou. "Nosso propósito com o Brasil, nosso sócio principal e com relação estratégica, é potencializar o Mercosul e a base para isso é o crescimento equilibrado intra-industrial. Isso é fundamental."

Para haver um Mercosul mais forte, a Argentina considera necessário "um equilíbrio" no bloco. "As medidas (restrições) nunca vão ser contra o espírito e os objetivos do Mercosul. São medidas para possibilitar que o Mercosul siga crescendo", disse Stancanelli.

Indagado se a Argentina planejava outras restrições a produtos brasileiros, o subsecretário retrucou que a reunião bilateral de monitoramento, ontem em Buenos Aires, visava discutir políticas de integração industrial.

Stancanelli contestou a versão de industriais brasileiros de que a menor participação brasileira estaria sendo coberta por produtos de outras origens, como China e México. "Não é certo, o Brasil segue mantendo sua participação. A Argentina é que foi vítima de desvio do comércio, no caso da resina PET no Brasil", retrucou.

"A Argentina foi sacada totalmente do mercado por uma taxa antidumping e aí sim o mercado foi coberto pelos asiáticos", disse. A Argentina espera agora uma proposta da parte do Brasil para evitar que a disputa da resina tenha de ser resolvida na Organização Mundial do Comércio (OMC).

"A empresa argentina apresentou pedido de revisão de direito antidumping. Estamos abertos a qualquer mecanismo e um acordo de preço poderia ser uma solução. Esperamos proposta do Brasil."

Néstor Stancanelli destacou também a importância de o Brasil e a Argentina preservarem sua margem de manobra em política industrial, nas negociações da Rodada Doha, na OMC.

Na semana passada, o embaixador argentino na entidade, Alberto Dumont, foi incisivo em rejeitar concessões na área industrial demandadas por países desenvolvidos. Sua conclusão, após várias reuniões bilaterais com EUA, União Européia e outros desenvolvidos, foi de que suas demandas são incompatíveis com uma rodada orientada para o desenvolvimento, com o paralelismo na abertura agrícola e industrial, com o mandato da negociação industrial, e no caso argentino, com a política industrial e de emprego.