Título: PPS teme que divisão tucana comprometa sucessão
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 13/02/2007, Política, p. A13

Aliado dos tucanos na eleição presidencial de 2006, o PPS receia que a existência de dois presidenciáveis dentro do PSDB leve o partido aliado ao mesmo resultado que teve na eleição passada, quando o ex-governador paulista Geraldo Alckmin foi definido como candidato sete meses antes do pleito, depois de uma disputa com o então prefeito paulistano José Serra, hoje governador, e terminou derrotado.

"Não dá para decidir entre Serra e Aécio (Neves, governador de Minas Gerais) só em 2010. Será a derrota certa. E não pensem que o campo da esquerda democrática ficará sem alternativa", disse Freire, para quem o impasse deve ter desfecho logo depois da eleição municipal de 2008. O dirigente demonstra simpatia com uma possível candidatura presidencial de Serra. "Ele foi o verdadeiro candidato presidencial de esquerda, quando concorreu", afirmou. Na ocasião em que Serra disputou, em 2002, o PPS lançou Ciro Gomes, hoje deputado federal pelo PSB cearense.

Freire disse que um novo eixo partidário poderá surgir na próxima eleição presidencial. "Queremos ser instrumento para o debate e uma opção para descontentes", disse o dirigente, que montou um escritório da direção nacional da sigla em São Paulo e passa a maior parte de seu tempo no Estado.

O presidente do PPS afirmou que as divisões internas do PSDB estão colocando dificuldades para que o partido aliado estruture o Congresso que convocou para o final deste ano, em que irá renovar sua direção. "O PSDB está com dificuldades para fazer sua refundação. Eles precisam saber o que irão fazer. Têm dificuldades de fazer oposição desde o início do governo Lula", disse Freire, para quem, "infelizmente o PT encontra apoio em amplos setores do PSDB".

Segundo Freire, a crise tucana tornou-se evidente no processo de eleição da presidência da Câmara. O primeiro movimento tucano foi apoiar o petista Arlindo Chinaglia, que terminou vencedor. O PSDB acabou recuando diante da reação contrária do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do lançamento da candidatura alternativa do tucano Gustavo Fruet (PR), com o apoio do PPS. "Uma pressão externa fez com que o Fruet se tornasse candidato, independente da decisão do PSDB. Talvez algo assim volte a acontecer", comentou.

O episódio da eleição da presidência da Câmara colocou em lados opostos, dentro do PSDB a Fernando Henrique e aos dois presidenciáveis da sigla. O ex-presidente, com quem Freire encontrou-se anteontem, propõe que o PSDB radicalize o tom oposicionista e procurou capitalizar a divisão da base governista na disputa pelo comando do Legislativo. Os governadores da sigla querem moderar o tom e trataram a eleição na Câmara como uma questão interna do Parlamento. O tema afastou o PSDB de seus parceiros oposicionistas. O PPS ficou com Fruet e o PFL apoiou a frustrada reeleição de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para a função.

Fragilizado após a eleição do ano passado, quando ficou abaixo da cláusula de barreira, que exigia 5% dos votos em todo o País para que um partido se mantivesse em funcionamento, o PPS perdeu em seguida seus dois governadores, Blairo Maggi (MT) e Ivo Cassol (RO), que foram para o PR. Como reação, Freire planeja realizar no segundo semestre uma conferência partidária, em que não filiados terão direito a voz e voto.