Título: Apesar de retomada, governo admite nova rolagem de dívidas
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 13/02/2007, Agronegócios, p. B12

Mesmo com as boas condições projetadas para a atual safra, a melhora nos preços internacionais das commodities agrícolas e a conseqüente recuperação da renda dos produtores de grãos, o governo já começou a calcular o volume total das dívidas que devem ser renegociadas neste ano.

Nos bastidores da equipe econômica, avalia-se a necessidade de rolar o vencimento de até R$ 6 bilhões em dívidas rurais em 2007. O volume corresponderia a 30% do crédito de custeio da atual safra 2006/2007 e uma parcela dos financiamentos de investimentos do setor. Em 2006, três pacotes do governo impuseram um custo de R$ 10 bilhões ao Tesouro Nacional ao longo de dez anos.

Por precaução, nenhum membro do governo admite publicamente esta situação. A ordem, por enquanto, é aguardar as manifestações de associações rurais e medir a força política da bancada ruralista na Câmara dos Deputados e no Senado. Na agenda pública, têm prioridade as mudanças na política agrícola, com o estímulo à massificação do seguro rural e das operações em mercados futuros.

O principal argumento utilizado pelos produtores para convencer o governo Lula a prorrogar pela segunda vez os débitos do setor em sua gestão é a forte concentração de vencimentos entre abril e outubro. Nesse período, vencem 30% das parcelas de custeio prorrogadas no ano passado das safras 2004/05 e 2005/06. Também estão penduradas as contas da renegociação das dívidas antigas instituídas desde 1995 nos programas de securitização, de saneamento de ativos (Pesa) e de recuperação das cooperativas (Recoop). Além disso, vencem neste ano as parcelas dos programas de investimentos e do custeio da safra 2006/2007.

Em Mato Grosso, onde estão localizados os principais problemas de fluxo de caixa, os produtores avisam que "terão possibilidade" de pagar ao Banco do Brasil somente R$ 800 milhões do custeio da atual safra. Cerca de R$ 1,8 bilhão, que foram parcelados em até cinco anos de dívidas de safras anteriores, devem ficar para trás.

"Enquanto não tivermos rentabilidade suficiente na atividade agrícola, obviamente que a dívida acumulada ao longo dos anos não será quitada com apenas uma safra", diz o deputado Homero Pereira (PR-MT), presidente da federação estadual de Agricultura (Famato). Segundo ele, o setor "acumulou prejuízos" ao longo dos últimos três anos. "Com os bons resultados da safra 2006/2007, o produtor vai começar o processo de saneamento do passivo que ele tem. Só que este é um processo gradativo, que não será resolvido em apenas um ano" avalia. Homero foi um dos líderes do "tratoraço" de 2005, que exigia a renegociação das dívidas rurais.

A Comissão Nacional de Cereais da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) decidiu dar prioridade à elaboração de uma "proposta ao governo" para renegociação das dívidas das safras 2004/05 e 2005/06. Presidente da reunião e dirigente da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg), Alécio Maróstica, admite o momento de recuperação, mas diz que os produtores ainda sentem o efeito de crises passadas. "Temos que resolver o problema do passivo das dívidas referentes ao período da crise. O excesso de chuvas, os problemas logísticos no Centro-Oeste e o avanço da ferrugem asiática em alguns Estados estão dificultando a recuperação de renda do produtor", afirma o dirigente da Faeg.