Título: Para Santana, crise tirou governo da letargia e foi crucial à reeleição
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 14/05/2007, Política, p. A8

A crise que se abateu sobre a campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, que se refletiu na perda de votos e levou a disputa a segundo turno, acabou ajudando sua vitória. A conclusão é de João Santana, coordenador da campanha e principal consultor de comunicação do presidente. "Hoje acho que seria mais arriscado para Lula enfrentar a eleição sem a sacudida da crise", disse Santana, em palestra no IV Seminário Internacional de Management Político, realizado sexta-feira na Universidade Católica Argentina.

A avaliação já havia sido feita por analistas políticos mas é a primeira vez que vem do próprio coordenador da campanha, que raramente fala em público e, apesar de ser jornalista, não dá entrevistas à imprensa. Em um sofrível "portunhol", Santana fez um balanço das dificuldades e das ações da equipe que comandou a vitória de Lula no segundo turno. Na platéia estavam cerca de uma centena de estudantes e analistas políticos de países latinoamericanos.

João Santana, que segue cuidando da imagem presidencial e foi um dos responsáveis pela indicação do jornalista Franklin Martins para chefiar a Comunicação Social do governo, falou do cenário político no ano eleitoral, e apresentou diversos vídeos preparados pela equipe para a campanha.

Segundo ele, "Lula foi vítima da mais violenta e longa campanha negativa por parte de todos os meios de comunicação, alimentados por três CPIs ". Para ele, "houve uma radicalização absoluta" e "uma dramatização exacerbada da questão ética". Por outro lado, "até então nunca tinha havido tamanha identificação da camada mais pobre com o presidente". Em sua avaliação, isso fez com que o governo chegasse às eleições num clima de "já ganhou" e sem fazer nada para se defender dos ataques.

"A crise tirou o governo da letargia, forçou a um realinhamento e uma reação com ações que superassem a força dos ataques", disse. A estratégia até o primeiro turno foi blindar a imagem de Lula, forçar uma reação da base aliada e expor com vigor o trabalho da Policia Federal, para mostrar que o governo não era corrupto, ao contrário, caçava corruptos como nunca.

Na avaliação da equipe de coordenação da campanha, tudo ia bem até chegar o caso da compra de um suposto dossiê contra José Serra. "O dossiê foi como um foco de infecção" que ressurge num doente que já estava perto de curar-se, comparou. Nesse momento, "Lula cometeu o erro de não ir ao debate da Globo. Sempre achei que ele deveria ir a esse debate".

Depois disso, descreve, em dois dias a equipe começou a receber pesquisas mostrando uma queda "inacreditável" de 6 a 7 pontos. Ao analisar as perdas regionais, entendia que Lula tivesse perdido no Sul do país, porque houve uma quebra de safra, as indústrias reclamavam do câmbio e dos juros. Mas não compreendia as perdas de votos em lugares como Acre, Rondônia e Distrito Federal. "Foram perdas que não se justificavam".

A virada, na opinião de Santana, foi quando se decidiu associar o adversário (Geraldo Alckmin) às privatizações: "Isso foi o que mais logrou resultados positivos". O seminário foi uma oportunidade para apresentação de experiências de campanha por seus autores para um público ávido por informações, já que este é o ano das eleições presidenciais na Argentina.