Título: Política de "renovação" cria empregos e promove crescimento
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 14/05/2007, Especial, p. A12

Em português, "doi moi" significa renovação. É o que os vietnamitas buscavam com a política de liberalização econômica e reformas estruturais, que começaram a implantar em 1986. O objetivo declarado do governo era incentivar as exportações. Tratava-se de um primeiro passo depois de um longo período para o Vietnã. O país viveu sob o domínio da França desde 1887. Declarou sua independência após o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, mas só conseguiu a vitória em 1954 com os comunistas de Ho Chi Minh.

Em plena guerra fria, o país foi dividido em dois: comunista e capitalista. O Vietnã entrou em guerra com os Estados Unidos, potência mundial, mas conseguiu varrer as tropas americanas de seu país em 1973. Os comunistas reunificaram o Vietnã em 1975 e implantaram uma economia rígida e planejada. A década de 70 foi marcada pelo fraco crescimento da economia. Ainda abalado pelas guerras, o Vietnã perdeu o suporte econômico do bloco soviético.

Por isso, quando a "doi moi" foi anunciada havia uma grande expectativa no ar. Era um período em que o Sudeste Asiático estava explodindo com Tailândia, Indonésia e outros países atraindo muito dinheiro estrangeiro. Os investidores correram para o Vietnã, imaginando que se tratava do novo tigre asiático. Mas não foi dessa vez. No início dos anos 90, as reformas não haviam decolado e os investidores fugiam. Como todo mundo estava perdendo dinheiro, um piada comum no país naqueles tempos era: "Quer se tornar um milionário no Vietnã, comece como bilionário."

Foi a partir do início dessa década, com o boom de crescimento da China, que o Vietnã finalmente iniciou sua renovação. "A mudança é inacreditável", diz Jean-Pierre Lehmann, professor de política econômica do instituto suíço IMD que já visitou o Vietnã cinco vezes em diferentes períodos de sua história.

Nos últimos anos, o crescimento do Vietnã esteve entre os mais fortes do mundo. O Produto Interno Bruto do país avançou 8% em 2005 e 7,8% no ano passado. Desde 2001, o governo está comprometido com as reformas e com a liberalização econômica, embora sem distensão política.

A participação da agricultura, que é basicamente de subsistência, na atividade do país caiu de 25% em 2000 para 10% em 2006, embora ainda responda por 57% dos empregos. A indústria representa 40% do PIB, 37% da ocupação e cresceu 11% em 2006

A política do governo vietnamita é criar, o mais rápido possível, o maior número de empregos para sua força de trabalho, que cresce 1 milhão de pessoas por ano. Daí a opção do país pela indústria de calçados e têxtil, que paga pouco, mas emprega muito com baixo investimento. Outra atividade que também está se desenvolvendo é o turismo, graças às riquezas naturais e culturais do país, que atravessaram as guerras sem prejuízos insuperáveis.

Como parte da abertura econômica, o pequeno país comunista da Ásia se tornou um membro da Asean e, em 2001, fechou um acordo de livre comércio com os Estados Unidos, seu arquiinimigo no passado recente. Em janeiro deste ano, o Vietnã se juntou à Organização Mundial de Comércio (OMC).

O comércio do Vietnã com o mundo cresceu muito nos últimos anos. As exportações saíram de US$ 14 bilhões em 2000 para US$ 40 bilhões no ano passado. Os principais parceiros são Japão (18%), China (13,6%), Austrália (7,9%), e Cingapura (5,6%). O comércio com a América Latina ainda é muito pequeno, somando exportações de US$ 151 milhões no ano passado. A população do Vietnã é jovem - 68% está em idade economicamente ativa. O país não enfrentará como a China, que adotou a política de "apenas um filho", um envelhecimento precoce da força de trabalho.

Em 1970, com a revolução comunista, muitos vietnamitas deixaram o país de barco rumo a Austrália, Estados Unidos ou França. Esses "vietnamitas dos barcos", como ficaram conhecidos, estão voltando para o país. Por ser de origem chinesa, são empreendedores e estão retornando para investir.

Também há uma migração de chineses e taiwaneses para o Vietnã, para explorar os setores têxtil e de calçados, à medida que o custo do trabalho aumenta em seus países de origem. No Camboja ou no Laos, os salários são baixos, mas a infra-estrutura é ruim e há instabilidade política.

Os investimentos estrangeiros representam hoje 32,6% do PIB do Vietnã, segundo dados da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Investimento (Unctad), percentual bem superior ao do Brasil, que está em 16,8%. Em 1990, os investidores estrangeiros haviam aplicado apenas US$ 1,65 bilhão no Vietnã. Em 2000, o estoque de investimento estrangeiro no Vietnã subiu US$ 20 bilhões. Em cinco anos, os investimentos deram novo salto de 50% e somaram US$ 31 bilhões até 2005. "Viajei bastante pelo Vietnã recentemente. Em todos os lugares, há um impressionante clima de empreendedorismo. Estou otimista", relata Lehmann. (RL)