Título: Crédito à exportação de curto prazo dobra
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini e Guimarães, L. Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 14/05/2007, Finanças, p. C1

O financiamento à exportação de curto prazo, que vinha andando de lado nos últimos anos, voltou a explodir, com aumento de mais de 100% nos bancos líderes em abril. A ampliação no volume de Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACCs), pré-embarque da mercadoria, e de Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACEs), pós-embarque - crédito de prazo de vencimento de até um ano - ajuda a inundar o mercado de dólares. No ano, apesar de compras pelo Banco Central superiores a US$ 40 bilhões no mercado à vista, o dólar acumula queda de 5,52%, para R$ 2,0190.

A razão para o crescimento dos ACCs e ACEs: os grandes exportadores aproveitam uma janela de oportunidade financeira que tornou o cupom cambial (o juro para investimentos indexados ao dólar no Brasil) mais alto do que os custos desse tipo de financiamento. "O cupom curto, para prazos até seis meses, abriu, e por isso voltou a ser atrativo tomar ACCs", explica o diretor executivo do Bradesco, José Guilherme Lembi de Faria.

As diferenças entre o custo do ACC ou ACE e os juros da aplicação financeira, o cupom cambial, variam dependendo do prazo, mas vão de 200 a 100 pontos básicos para até seis meses. O exportador toma ACC e ACE e aplica os recursos obtidos em investimentos indexados ao dólar no Brasil, ganhando a diferença. Isso significa na prática que o exportador consegue captar, após feita a troca do indexador da dívida de dólar para real, a custos abaixo da taxa básica de juros do Brasil, a Selic.

No Bradesco, o banco que mais fechou operações de ACC e ACE em abril, o total chegou a US$ 1,6 bilhão, mais do que o dobro do total de US$ 837 milhões do mesmo mês do ano passado. No Banco do Brasil, que tradicionalmente é o líder do mercado, o total foi a US$ 1,5 bilhão, um aumento de 45%. As exportações físicas cresceram 26% em abril na comparação com o mesmo mês de 2006.

Segundo rumores, o movimento foi tão forte que a Receita Federal acabou recusando algumas grandes operações. Os ACCs e ACEs são isentos de Imposto de Renda, e mesmo empresas não-exportadoras reivindicam tomar esse tipo de linha. Para isso, compram performance de exportação a termo de exportadoras. Foi de algumas estruturas desse tipo que a Receita não gostou, segundo comenta-se no mercado.

Paradoxalmente, é a própria atuação do Banco Central no mercado à vista de câmbio que puxa o cupom cambial para cima. Ao comprar mais dólares do que o total existente no mercado à vista, o BC gera uma escassez de dólar moeda. Mas, ao mesmo tempo, sobra dólar futuro, por causa da venda agressiva dos fundos externos no mercado de derivativos, que querem comprar reais para obter as atraentes taxas de juros brasileiras. Com isso, o dólar à vista fica caro em relação ao dólar futuro e o cupom cambial sobe. Foi por essa razão que o BC passou a comprar dólar no mercado futuro, no total de US$ 11 bilhões líquidos neste ano, por meio do "swap reverso".

Não é apenas a parcela financiada do câmbio para exportação que tem crescido com força. A contratação de câmbio à vista também tem explodido, pois os exportadores querem converter seus dólares em reais o quando antes e aplicá-los nos juros prefixados ainda atrativos oferecidos no Brasil. "Os exportadores parecem estar acreditando que o dólar vai continuar a se desvalorizar em relação ao real", completa Nilo Panazzolo, diretor de comércio exterior do Banco do Brasil. Não querem, por isso, ficar com dólar na mão - fazem a conversão assim que recebem recursos do exterior.

O movimento levou a um recorde histórico a diferença entre o câmbio contratado para a exportação e as exportações físicas: US$ 17 bilhões acumulados em 12 meses, segundo o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. Somente em abril, a diferença foi de nada menos do que US$ 4 bilhões, elevando o total acumulado em 2007 a US$ 14,15 bilhões.

No Banco do Brasil, o volume total de câmbio contratado em abril chegou a US$ 5,2 bilhões, um recorde histórico. O aumento na comparação com o mesmo mês do ano passado foi de 78%. Dos US$ 5,2 bilhões, US$ 3,7 bilhões foram câmbio à vista.

De janeiro a abril deste ano, o BB já contratou U$ 4,7 bilhões em ACC e ACE, um crescimento de 23% em comparação com o primeiro quadrimestre de 2006, o que mantém sua posição de liderança no ano. No quadrimestre, o total de câmbio contratado para as exportações no BB foi a US$ 15,9 bilhões, com variação positiva de 30%.

No Bradesco, o total de câmbio contratado foi a US$ 3,979 bilhões em abril, um aumento de 66% na comparação com abril do ano passado. O total de câmbio à vista chegou a US$ 2,377 bilhões, um aumento de 52% no período. Em 2007 até abril, o Bradesco realizou US$ 12,857 bilhões em fechamento de câmbio, 28% a mais do que em igual período de 2006. Os ACCs e ACEs somaram US$ 3,8 bilhões de janeiro a abril, 17% a mais do que em 2006. O câmbio à vista contratado passou de US$ 6,815 bilhões em 2006 para US$ 9,048 bilhões no quadrimestre, um aumento de 33%.

Além dos exportadores, os bancos também ficam atentos para aproveitar as janelas para ganhos com o cupom cambial. Muitas instituições estrangeiras têm tomado recursos das suas matrizes a custos muito próximos da Libor, a taxa interbancária de Londres, e aplicado no cupom. Os bancos nacionais também têm sobras de linhas externas disponíveis no curto prazo a custos baixos e aplicam essas linhas no cupom cambial.