Título: Palocci faz campanha para ser o deputado mais votado de SP
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2006, Política, p. A6

O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci faz campanha para ser o deputado federal mais votado por São Paulo. Ele não quer ser apenas mais um entre os 513 deputados da Câmara, mas uma referência no Congresso. Avaliações feitas até por adversários políticos apontam que o ex-ministro pode alcançar seu objetivo, mas sua campanha causa mal-estar no PT paulista.

"É uma campanha (a de Palocci) agressiva do ponto de vista estrutural, incompatível com a minha e a de outros pobres mortais", queixa-se o deputado Luciano Zica (PT-SP), eleito pela região de Campinas. Zica verbaliza o que outros candidatos petistas admitem em confidência: com recursos, Palocci estaria desfazendo as "dobradas" e invadindo a seara dos outros candidatos.

O caso do próprio Zica é exemplar: ele conta que um candidato a deputado estadual com o qual fazia uma antiga "dobradinha" passou a fazer parceria com Palocci. O ex-ministro teria se comprometido a pagar por todos os impressos da campanha. Zica rachava meio a meio as despesas. "Não é uma coisa que possa se considerar natural".

Há candidatos a deputado estadual para os quais Palocci teria oferecido dez vans com equipe de oito pessoas remuneradas. Eles aceitaram o material impresso, mas preferem não aparecer junto a Palocci. O ex-ministro também abriu um comitê na região dos Jardins, em São Paulo. Sempre que é questionado sobre como vai a campanha, Zica responde "está faltando emoção", esfregando o polegar ao indicador no clássico gesto de "dinheiro". E completa que "é melhor do que a emoção do noticiário do dia seguinte", numa referência aos processos a que responde Palocci.

Palocci procura ignorar as afirmações de Zica. Mas admite que sua campanha a deputado federal efetivamente mudou de perfil, se comparada com a de 1998, quando se concentrou na região de Ribeirão Preto e ele teve 125.462 votos. Por meio de sua assessoria, Palocci disse que a campanha ficou mais extensa, atingindo outras regiões do Estado até por ele ter sido ministro da Fazenda, o que lhe deu "uma outra referência, uma outra visibilidade".

Em declaração à Justiça Eleitoral, Palocci calculou em R$ 2,5 milhões o limite de gastos de sua campanha. Na prestação parcial de contas de agosto declarou ter recebido R$ 385 mil em doações, sendo R$ 150 mil em cheques, R$ 225 mil por meio de transferência eletrônica e R$ 10 mil "estimável em dinheiro". Os gastos totalizaram R$ 143.513,44. A maior parte com locação/cessão de bens imóveis (R$ 54 mil). Com publicidade por placas, estandartes, faixas e carros de som o ex-ministro gastou R$ 24.775,00. A prestação de contas parcial de setembro mostrou que o ex-ministro gastou 52,5% do arrecadado. A receita totaliza R$ 667.530, sendo que a maior parte das doações foram feitas por meio de cheques (R$ 374.860). A maior parte dos gastos, que somam R$ 350.546, foram com publicidade por placas, estandartes e faixas: R$ 124.995. A locação/ cessão de imóveis chegou a R$ 58,5 mil e os gastos com material impresso, R$ 39,8 mil.

Em campanha, Palocci privilegia encontros fechados e visitas a prefeitos. Mas sempre dedica um espaço para os temas nacionais e conversas que o mantenham como uma referência. Antes do feriado de 7 de Setembro, por exemplo, recebeu executivos da consultoria de classificação de risco político norte-americana Eurasia Group e do grupo de investimentos Citadel, um dos maiores gestores de recursos dos EUA. Prontificou-se a ser um interlocutor no Congresso.

Já há algumas semanas Palocci vem dando palestras pagas para grupos reservados de várias instituições financeiras. Segundo um dos participantes das palestras, esta era uma forma que o ex-ministro teria encontrado de financiar seus gastos correntes, mas não sua campanha. No encontro com uma instituição financeira, participou de uma mesa de um café da manhã. Palocci reapresentou sua proposta de trabalhar para uma ajuste fiscal de longo prazo, de modo que o país corte 2% de suas despesas em dez anos.

O ex-ministro mencionou a importância de uma reforma da Previdência, disse que a questão ainda encontrava muita resistência dentro do PT e que ele estava disposto a trabalhar para vencer esta resistência. Palocci mencionou que teve 120 mil votos para deputado em 1998 e que, se repetisse a votação agora, conseguiria se eleger. Está fazendo uma campanha focalizada no Estado, dedicando-se a três eixos: a região metropolitana, o Alto Tietê e o ABC, além, é claro, de Ribeirão Preto. E que até agora ele não esteve em Campinas.

Há uma anuência do comando paulista do PT nessa estratégia agressiva da campanha de Palocci que, no fundo, é para resgatar a imagem dele com uma maciça votação, segundo um federal do partido. Mas, por melhor que seja sua votação, é pouco provável que Palocci dispute a presidência da Câmara, como sugerem setores do partido. A avaliação no Congresso é que, no momento em que o ex-ministro colocar a cabeça para fora, as denúncias contra ele voltam. (Colaboraram César Felício e Caio Junqueira, de São Paulo)