Título: Uruguai pede para negociar com os EUA
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2006, Brasil, p. A3

O presidente do Uruguai, Tabaré Vazquez, deve confirmar hoje ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a disposição de firmar um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Em encontro na cidade gaúcha de Canoas, Vazquez pedirá a Lula, na presidência temporária do Mercosul, que interceda com os outros sócios para permitir ao Uruguai negociar o acordo, contrário às regras da união aduaneira formada por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

O encontro aproveita a viagem de Lula ao Rio Grande do Sul, hoje, e faz parte de uma ofensiva uruguaia para defender as negociações comerciais com os EUA.

De acordo com a revista uruguaia "Busqueda", para tratar do mesmo assunto, o ministro de Relações Exteriores uruguaio, Reinaldo Gargano, vai encontrar-se com o chanceler argentino, Jorge Taiana, enquanto o ministro da Pecuária, José Mujica, terá um encontro com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. A Venezuela, que aderiu recentemente ao Mercosul, está em processo de adaptação às regras da união aduaneira, entre elas a adoção da tarifa de importação comum a todos os sócios.

Embora evitem cuidadosamente o termo "acordo de livre comércio", autoridades da presidência uruguaia divulgaram, em reunião com parlamentares da oposição, nesta semana, um texto de "avaliação preliminar de um possível acordo com os Estados Unidos" que evidencia ser este o tipo de tratado que o governo uruguaio considera possível firmar com o governo de George W. Bush.

O texto menciona detalhes como as dificuldades previstas para abrir o mercado de compras do governo e o de serviços nos setores de telecomunicações e distribuição de combustíveis, e de aceitar as exigências americanas em matéria de direitos de propriedade intelectual.

O governo uruguaio avalia que, para atender às restrições da Organização Mundial do Comércio (OMC), um acordo com os Estados Unidos só poderia se dar sob a forma de um acordo de livre comércio ou união aduaneira. A alternativa - concessão unilateral de cotas ou reduções de tarifas por parte dos Estados Unidos - não parece viável, segundo os assessores de Tabaré Vazquez.

"Enquanto perdurar o estancamento e falta de aprofundamento dos mecanismos de integração regional, os requerimentos da estratégia de desenvolvimento do país implicam impulsionar o acesso de suas exportações a outros terceiros mercados", defende o documento, que sugere o modelo adotado pela Comunidade Andina, onde alguns países firmaram acordos em separado com os EUA. Embora reafirme o compromisso com o Mercosul, prevê concessões que, na prática, contrariam as regras do bloco, conflitam com as posições do Mercosul nas negociações de comércio e criam dificuldades até para as negociações em curso para acordos com outros países.

Os Estados Unidos exigem no futuro acordo uma cláusula de Nação Mais Favorecida, o que obrigaria o Uruguai a estender aos americanos eventuais concessões feitas à União Européia ou Índia, por exemplo.

Vazquez pretende ter a permissão dos parceiros até 2 de outubro, quando se reúne a Comissão de Comércio Bilateral Uruguai e Estados Unidos. O acordo é duramente criticado pelas próprias forças governistas no Congresso uruguaio e por sindicatos, mas exigido pelo setor privado.