Título: Tecnologia ajuda no combate a "gatos" nas áreas críticas
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2006, Empresas, p. B1
Em 2003, a Ampla começou a implantar a chamada Rede Ampla, que elevou a rede de baixa tensão, dificultando o acesso às ligações clandestinas de fios, os chamados "gatos". Esta é uma prática antiga, onde um ou mais consumidores se apropriam da energia elétrica sem que ela seja faturada. Para exorcizar os "gatos", a Ampla adotou equipamentos de medição de consumo equipados com chips.
O desenvolvimento dessa nova rede foi feito pela distribuidora. Os equipamentos de medição que a compõem são fabricados pela Lands Gyr e pela Companhia Americana de Multiserviços (CAM). A operação é feita pela Synapsis, empresa de tecnologia de informação. CAM e Synapsis são do grupo Endesa, que controla a Ampla.
A CAM nasceu no Chile, atua em cinco países e chegou há cinco anos no Brasil, onde fatura R$ 70 milhões por ano. Desse total, 15% a 20% são provenientes de contratos firmados com a Ampla. O maior impulso nos negócios da CAM aconteceu este ano. A empresa hoje tem 85 mil clientes com sistemas automáticos de medição e leitura diária. Entre eles está a cearense Coelce, também controlada pela Endesa. O objetivo da CAM, segundo seu presidente, Tomás Casanegra, é ter outras distribuidoras em carteira. Recentemente, conversou com os novos administradores da Light, que ainda estudam o que fazer para enfrentar os "gatos".
As maiores incidências de roubo de energia na área da Ampla acontecem nos municípios de São Gonçalo, Caxias, Magé, Itaboraí e Niterói. No primeiro momento da implantação da nova rede, a tecnologia usada fez o índice de furtos na área cair de 53% para 9,5%. Mas logo depois as perdas voltaram a subir, para 20%, e a Ampla começou a instalar medidores eletrônicos, que têm um "chip" que mede o consumo de energia elétrica por meio digital, evitando a alteração nos medidores (o que é considerado tecnicamente furto de energia). Com isso, o índice de furtos de energia caiu para 2% nas regiões onde o equipamento foi instalado.
Atualmente, os clientes com medidores eletrônicos podem ser informados do seu consumo por meio de um torpedo de celular. Os desligamentos e religamentos podem ser feitos remotamente.
O presidente da CAM está animado com os negócios gerados no Brasil, mercado que segundo ele tem o maior potencial na região e é dez vezes maior que o do Chile. "Em termos energéticos, o Brasil corresponde, sozinho, a metade da América do Sul. É um desafio", afirmou Casanegra.
Duas outras tecnologias usadas pela Ampla para exorcizar os "gatos" foram desenvolvidas por uma pequena empresa fluminense chamada Sosama Mercantil e Industrial. São dois equipamentos em fase de testes pela distribuidora, um deles construído com assistência da Universidade Federal Fluminense (UFF), que geraram contrato de R$ 600 mil para a Sosama.
Um dos equipamentos é um medidor blindado (para regiões de grande violência, como as favelas), o outro, chamado inibidor de furto, cria uma distorção no sistema elétrico, gerando um ruído na energia que circula na rede, inviabilizando o roubo. Somente quando a energia chega a um decodificador instalado na casa do cliente ela é "reequilibrada". A Ampla encomendou 500 peças de cada um e segundo Marcelo Llévenes, presidente da empresa, eles serão instalados em áreas com menor índice de perdas.
O dono da Sosama, Élcio Deccache, disse que o contrato com a Ampla "abriu um novo horizonte" para a empresa, o que levou seus donos - pai e filho - a investirem R$ 1 milhão na expansão da fábrica, situada em São Gonçalo, região metropolitana do Rio. A empresa, que tinha 10 funcionários até 2005, prevê aumentá-los para 100 em 2007, alguns com doutorado. (CS)