Título: Di Cunto busca investidor para espalhar lojas por São Paulo
Autor: Martinez, Chris
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2006, Empresas, p. B5

Parece uma rosquinha. Mas está longe disso. Tradicional receita napolitana, recheada com um saboroso creme de baunilha, a zeppola fez história: não apenas porque se come no dia de São José, a cada 19 de março, mas também porque faz parte da trajetória de sucesso da Di Cunto, uma das mais antigas confeitarias de São Paulo. De sua antiga cozinha, já saíram mais de 50 mil zeppoli (no plural, em italiano) em apenas um mês. Março, claro.

A padaria, fundada em 1935, no bairro paulistano da Mooca - reduto de imigrantes vindos do Sul da Itália -, é assim: faz questão de manter a tradição. Mas, agora, quer mudar, se modernizar. Essa espécie de virada, que vem sendo discutida internamente pelos membros da terceira geração da família Di Cunto, se viabilizará com a busca de um sócio investidor. Alguém disposto a injetar capital para transformar a Di Cunto em uma rede com um punhado de lojas espalhadas por São Paulo. Hoje, são três unidades e fatura R$ 7 milhões por ano.

"Estamos abertos a negociar", diz, Pedro Porta, entre goles de água misturada ao limão espremido. Aos 60 anos, sendo 40 de casa, Pedro Porta é quase um Di Cunto. Casou-se com uma das netas do fundador e "arrumou um emprego de fim de semana". "Fazia a contabilidade da empresa aos sábados e depois que me aposentei, há uns três anos, passei a vir para cá todos os dias."

Enquanto falava com o Valor, Porta passeava pela loja da Mooca, ora cumprimentava a freguesia ora mexia nos balcões de doces e salgados para se certificar de que tudo estava perfeito. A confeitaria, que Porta prefere apelidar de supermercado de comida (afinal são 1.100 produtos feitos ali, todos os dias), precisa de mudanças. Ainda carrega um ar antigo, meio bege.

A idéia da família é agilizar também a linha de produção e ganhar escala suficiente para aumentar o tempo de vida útil de congelados e semi-congelados. "Não temos essa tecnologia, até porque não usamos nenhum tipo de conservante, corante ou fermento", diz Porta.

A fermentação dos pães e bolos Di Cunto, por exemplo, é feita de forma natural, com a própria massa, que fermenta de um dia para o outro. "Nosso panetone demora 72 horas até chegar ao forno", diz Porta. E acrescenta: "não queremos mudar, mas melhorar". Para tanto, a empresa buscar um sócio investidor. Uma parceria do gênero já aconteceu no começo do ano, com a abertura da loja no bairro do Itaim, também em São Paulo. "Lá temos até mesmo um barista."

Até então, a Di Cunto só tinha duas lojas, a original na Mooca, e uma outra perto dali, no Tatuapé, na Zona Leste, inaugurada em 1997. Esta unidade tem um estilo bem mais moderno, mas isso só ocorreu porque o dono do terreno da loja anterior, também no Tatuapé, pediu o imóvel. "Ai resolvemos fazer uma filial mais moderna."

Uma outra idéia que povoa a cabeça da família é desenvolver uma outra linha de produtos, mais popular.

Hoje, os produtos da empresa são mais sofisticados. Alguns deles vendidos em supermercados chiques paulistanos como o Santa Luzia e o Santa Maria, além de algumas lojas do Pão de Açúcar. A Di Cunto também tem um bufê e já chegou a fazer jantar para cinco mil pessoas, no clube Juventus. Dos seus 180 empregados, 100 trabalham na cozinha. De seus fornos, saem um tonelada de bolo por semana.